Territórios peladeiros da periferia proletária de Goiânia : o jogo de bola que subverte o tempo e o espaço

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O futebol, esporte mais praticado do mundo, reúne multidões, mobiliza capitais, participa da geopolítica atual, fotografa as contradições viscerais do sujeito contemporâneo, expressa a violência, a corporeidade, as condições psíquicas e desenvolve afetos, dissidências, junções, alegrias e tristezas. Entende-se que estudar o futebol na sua vertente informal, tendo como escopo às territorialidades dos peladeiros na periferia da metrópole, implica lançar olhares imbuídos de indagações sobre a prática desse esporte na contemporaneidade. Existe uma questão espacial no futebol? O espaço geográfico está presente na ontologia do futebol? Paralelamente, indaga-se: há alguma relação particular entre futebol e periferia? Qual o sentido do futebol de pelada para os sujeitos da periferia proletária? Desse modo, a pesquisa teve como objetivo central, analisar as territorialidades dos peladeiros na periferia da metrópole goianiense, buscando compreendê-las como um lugar lúdico, criativo e alegre onde se dá o encontro e a sociabilidades dos sujeitos sociais, em meio à acirrada disputa por espaço na cidade contemporânea. Devido a natureza do fenômeno estudado e a abordagem que empreendida, o instrumental metodológico mais adequado é a abordagem qualitativa. Nessa esteira de metodologias alternativas, em termos de procedimentos de coleta de dados trabalhamos com a experiência vivencial, a qual consiste também em observação e conversas com os sujeitos sociais envolvidos. A experiência vivencial abriu a possibilidade de sentirmos o pulsar, de perceber os significados mais sutis dos momentos e movimentos do fenômeno, isso por um olhar situado num ângulo privilegiado. Através da experiência vivencial acompanhamos e participamos da pelada por dentro, como um legítimo peladeiro. Esse olhar localizado no interior dos territórios das peladas carregado de sensações, emoções, sentimentos emanados diretamente da pelada, articulado com as observações realizadas fora do campo de jogo e das conversas com o peladeiros, nos permitiu uma leitura mais ampla dos territórios dos peladeiros. Mesmo diante da voraz territorialização do capital que gera um novo esquadrinhamento no espaço urbano, a paisagem que observamos ao transitar pela metrópole, principalmente na periferia, é repleta de futebol de pelada. Com todos esses cenários pouco propícios, os territórios das peladas acenam como uma espécie de resistência/persistência. Nas peladas, os sujeitos da periferia se comunicam na realização de um lazer possível. O corpo explorado e enrijecido pela pressão do capital se liberta e se solta, a pelada torna-se um lugar da rebelião alegre do corpo. A pelada se coloca como um interstício sobre o qual, o trabalho, não se tem controle. É momento de liberdade e da vida livre, do encontro e do festejamento. Essas artimanhas são possibilidades reais de sujeitos sofridos, vilipendiados, explorados golpearem o sofrimento, distender dores, criar espaços de comunicação e de prazer onde o controle parece reinar. O certo mesmo é que a pelada afina-se enormemente com a vida, e expurga o tempo produzido pelo capital. A vida na pelada pulsa em variadas intensidades, revelando-se no grande leque de emoções pronunciadas. Nesse jogo de bola aparecem a alegria, tristeza, realização, frustração, paixão, raiva etc. O fazer político da pelada, com a negação do tempo do mundo, privilegia, rega, cultiva e valoriza a vida. Na seara do brincar livre, peladeiros na fresta do tempo e do espaço encontram com outra possibilidade de vida, descortina virtualidades, sonhos. A vida pode aparecer com timbre de esperança e com insígnia de resitência e de liberdade porque alegre.

ASSUNTO(S)

périphérie, football, des territoires des peladas , socialisation. periferia, futebol, territórios das peladas, sociabilidades. geografia

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