Imaginário, racialização e identidades percebidas de mulheres negras escolarizadas (Uberlândia, 1950-1969)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Essa pesquisa trata da exclusão sócio-educacional da população negra no Brasil, colocando em destaque os sujeitos femininos. O objetivo do estudo é compreender como as relações raciais e de gênero que se processavam na sociedade (anos 1950/1969) incidiam nos espaços da educação formal, tendo como foco mulheres negras escolarizadas. Promove-se a investigação do imaginário social a partir dos discursos das diferenças sexuais e raciais, com suas diversas percepções, e a análise da importância social da educação formal, bem como o modo como essas percepções eram veiculadas na imprensa escrita. Foi escolhido o jornal Correio de Uberlândia, no período mencionado. O jornal foi criado em 1938 e continua sendo editado até o presente, mantendo elevada importância junto à opinião pública. A outra fonte foi a revista Uberlândia Ilustrada, em especial a edição n. 21 (1956). A revista sobrevivia de matérias pagas, e essa edição foi patrocinada pela Sociedade da Gente de Cor de Uberlândia, a fim de divulgar matérias de interesse da população negra. Também se pretende conhecer os percursos trilhados por mulheres negras que conseguiram cursar o ensino de Nível Médio, tomando como pistas as narrativas pessoais de quatro entrevistadas. Das narrativas emergem relatos e situações que remetem aos preconceitos e discriminações vivenciadas por elas, que interferem na percepção das identidades do eu, mulher negra. A partir dos relatos, é tecida a análise da relação dos estereótipos com a forma sutil do racismo brasileiro, capturando sua utilização nas práticas de humilhação e de assédio racial. O trabalho desenvolve-se sobre a trajetória escolar das entrevistadas em sua busca de realização pessoal e profissional, e de reconhecimento social. Nessa trilha, surgem o Colégio Brasil Central, onde as entrevistadas viveram suas experiências de estudantes normalistas, e a figura da diretora do colégio, Maria Conceição Barbosa de Souza, que, por sua solidariedade às pessoas negras e pobres, exerceu significativa importância nas vidas das quatro entrevistadas. O trabalho conclui detectando processos sociais de realização sócio-educacionais em flagrante contradição com os discursos institucionais e da mídia impressa. Ambos reproduziam valores que preconizavam o lugar da mulher, destinada às tarefas do lar (como Rainha ou empregada doméstica), e, a possibilidade de sucesso profissional, no máximo, como Normalistas. As entrevistadas atingiram os ideais de carreira e reconhecimento profissional, por mérito próprio, e contra as adversidades da ausência de políticas públicas efetivamente acessíves aos brancos e negros. Mas, mostraram as marcas indeléveis deixadas pelos estereótipos raciais e de gênero. E, conclui, desvelando a falácia da suposta imparcialidade da mídia impressa, que exercia preponderante função de articulação e reafirmação de preconceitos sexistas e racistas.

ASSUNTO(S)

gênero educação historia identidade social - uberlândia (mg) - 1950-1969 raça imaginário racismo - uberlândia (mg) negras - uberlândia (mg) racismo identidades política e educação história social

Documentos Relacionados