CaldeirÃo de ClÃudio Aguiar: o narrador se faz memÃria de um povo

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

03/03/2006

RESUMO

O romance CaldeirÃo (1982), do escritor cearense ClÃudio Aguiar (1944), ficcionaliza um dos mais tristes episÃdios da histÃria do CearÃ, ocorrido na fazenda homÃnima do romance. Em nossa anÃlise, observamos que o romancista buscou representar âa verdadeira histÃriaâ do povo do CaldeirÃo e de seu principal integrante, o beato Josà LourenÃo, chegando mesmo a escolher como narrador a ficcionalizaÃÃo de um remanescente da comunidade, que pela verbalizaÃÃo de suas memÃrias a um repÃrter, constrÃi e reconstrÃi seu passado a partir das perspectivas presentes. Assim sendo, vimos a necessidade de examinar a confluÃncia entre histÃria e literatura, atentando Ãs diferenÃas que ocorrem na passagem do fato histÃrico para o ato literÃrio no romance. Dadas as especificidades do romance em estudo, foi natural questionar se esta confluÃncia se dà no quadro do novo romance histÃrico latino-americano, paradigma de romance histÃrico que se afasta substancialmente do modelo scottiano do subgÃnero. Esta indagaÃÃo norteou o presente estudo. Para tanto, foram abordados os traÃos messiÃnicos, os registros folclÃricos e a intensidade dramÃtica do narrador que, ao fornecer o seu testemunho, pretenso registro da experiÃncia de muitos, o torna veÃculo de uma certa cosmovisÃo que deve ser antes atribuÃda ao autor do romance por seu carÃter eminente sociolÃgico. Por outro lado, podemos entender a narrativa de CaldeirÃo como autobiogrÃfica, pois seu narrador jà conhece todo o passado a ser reconstituÃdo pela memÃria. Dessa forma, hà dois planos temporais: o tempo da enunciaÃÃo, do ato de narrar e o tempo das vivÃncias narradas. Na Ãpoca dos acontecimentos, Mestre Bernardino estava envolvido pelo calor das emoÃÃes e nÃo poderia tecer longas consideraÃÃes sobre sua vida, sobre o fim da sua comunidade. Mas agora, na sua nova condiÃÃo de remanescente, velando o corpo do principal representante de sua comunidade, jà adquiriu o distanciamento necessÃrio para as reflexÃes e comentÃrios que irà elaborar sobre atos passados e suas angÃstias recorrentes. Qualquer narrador, ao contar uma sÃrie de acontecimentos. adota, inevitavelmente, determinada distÃncia temporal em relaÃÃo a eles. Este distanciamento fica bem marcado ao longo do da obra, caracterizando-a tambÃm como pseudo-memÃrias. Verificaremos que o autor, com apuro tÃcnico e estilÃstico, recorre a este artifÃcio para tornar sua estÃria verossÃmil. Ao longo da dissertaÃÃo, tentamos dar Ãnfase à trÃs grandes questÃes tratadas em CaldeirÃo: as idÃias que dizem respeito à tradiÃÃo, à realidade histÃrica e sÃcio-cultural e aos elementos que compÃem a sua narrativa. A partir do seu enquadramento no modelo do novo romance histÃrico latino-americano pudemos responder a essas duas interrogaÃÃes que se cruzam: quais as dimensÃes da histÃria no romance, e quais os elementos de romance que se fazem presente na histÃria. Dessa forma, esperamos contribuir para o debate das relaÃÃes, freqÃentemente obscuras, entre o romance histÃrico e a histÃria.

ASSUNTO(S)

literatura brasileira literatura memÃria histÃria littÃrature mÃmoire histoire aguiar, clÃudio, 1944- caldeirÃo literatura e histÃria - cearÃ

Documentos Relacionados