Uma nova etapa: juventude e experiências de ingresso no ensino médio / A new stage: youth and entering experiences in high school education

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O ensino médio passa por uma fase de expansão no Brasil, com aumento do número de matrículas. Os modos atuais de organização social e do trabalhoexigem esforços de hiper-formação e impõem novos desafios à construção de cidadania e de democracia. A educação formal e o ensino médio em específico devem ser pensados não só em termos quantitativos, mas também qualitativos. Torna-se relevante estudar as relações estabelecidas entre os jovens e as escolas, investigar os efeitos da escolarização, as ações dos jovens e suas possibilidades de participação. O presente trabalho teve como objetivo investigar as experiências de ingresso de jovens de classes populares no ensino secundário, apreendendo possíveis transformações na construção da identidade e nas representações de escola e de ensino médio. Participaram desta pesquisa 120 estudantes, 61 meninas e 59 meninos, ingressantes em uma escola pública de ensino médio localizada em Viana, ES, com idades entre 14 e 16 anos. A coleta dos dados se deu em dois momentos diferentes do ano de 2006: fevereiro (início do ano letivo) e setembro. O método utilizado incluiu a aplicação de questionários discursivos, com questões abertas e exercícios de evocação, além de entrevistas baseadas em roteiro semi-estruturado. Os dados foram tratados por meio de análise de conteúdo temática e do software EVOC. Compararam-se os resultados obtidos em cada etapa da coleta segundo o momento da escolarização (início e meio do ano) e segundo gênero. No início do ano, a escola foi associada integralmente a valores positivos: amadurecimento e futuro promissor. Verificou-se, junto aos estudantes, um auto-apelo para estudar mais e tornar-se mais responsável e preocupado com o futuro, embora não esperassem, em geral, encontrar um ambiente propício ao protagonismo juvenil. No meio do ano, os valores positivos permaneceram hegemônicos. A educação e a escolarização continuaram a ser percebidas principalmente como o caminho para um futuro melhor. Entretanto, surgiram valores negativos, como a percepção de precariedade no uso dos espaços físicos. Com pequena representatividade, apareceram as idéias de que as matérias são inúteis, de que os professores são ruins e de que o futuro pessoal e profissional é incerto. Os colegas foram mais claramente divididos em subgrupos por afinidade. O bom professor foi caracterizado como empático e capaz de contextualizar o conhecimento. O ensino médio continuou a ser visto como uma nova etapa de preparação, mais exigente e que envolve mais responsabilidade. O discurso de que o ensino médio é importante para o futuro, para fazer faculdade e para o trabalho, se fortaleceu. Ao mesmo tempo, a escola continuou a ser encarada como naturalmente ligada à heteronomia. As possibilidades de participação ativa nas formas de organização escolar, em sua programação de atividades e em sua normatização, pareceram diminuir. A representação de bom aluno continuou fortemente associada aos valores escolares tradicionais de obediência e esforço. Ao comparar os dois momentos estudados, verificou-se a existência de dois caminhos hegemônicos para a escolarização: adequação (continuar a apostar na escola, ser bom aluno, esforçado e obediente) e negação (desprezar as regras e processos escolares). A discussão dos dados aponta para a importância das estratégias de promoção da autonomia no cotidiano escolar do ensino médio e do fornecimento de bases materiais para outras construções identitárias. O primeiro ano de escolarização secundária apareceu como momento estratégico para propor inovações na experiência escolar.

ASSUNTO(S)

psicologia ensino médio autonomy high school education representações sociais social representations juventude autonomia identity youth identidade

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