O funcionamento da atenção conjunta na interação mãe-criança cega

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

21/12/2011

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo principal compreender o funcionamento da atenção conjunta na interação mãe-criança cega. Para isso, realizamos uma investigação longitudinal, cujo corpus foi composto por registros videografados, com duração média de quinze a trinta minutos, de situações cotidianas (brincadeira livre, hora do banho, alimentação, etc.) ocorridas com essa díade no ambiente domiciliar por um período de aproximadamente um ano. Selecionamos dezoito dessas situações para a análise de forma a acompanhar mudanças qualitativas nas cenas de atenção conjunta estabelecidas entre mãe e filho cego. Fundamentamos nosso estudo na perspectiva do funcionamento linguístico multimodal proposta por Kendon (1980, 2002, 2004), McNeill (1985, 1992, 2000), Butcher; Goldin-Meadow (2000) e Cavalcante (2009). Em nossa trajetória teórica, percorremos contribuições acerca da atenção conjunta; por discussões sobre os papéis da prosódia e sobre os gestos na interação mãe-criança; e por escassas descrições sobre as repercussões da cegueira no processo de atenção conjunta. Partimos das hipóteses de que as cenas de atenção conjunta constituem momentos privilegiados para a entrada da criança na linguagem; de que tais cenas são estruturadas por configurações linguísticas multimodais na interação mãe-criança cega, na qual a voz/fala e o toque são os principais constituintes de atenção conjunta; de que a prosódia/manhês da fala materna funciona como via de acesso da criança cega nessas cenas; e de que o toque tem o estatuto do olhar no funcionamento da atenção conjunta dessa criança. Nossos dados mostraram que situações de engajamento na interação de atenção conjunta com a mãe contribuíram para aquisições verbais da criança; que esse funcionamento envolveu a integração de elementos multimodais maternos e os da criança; entre os quais a fala materna com marcações prosódicas e o toque foram primordiais na constituição da atenção conjunta na interação com a criança; neste processo a qualidade vocal em falsetto presente no manhês foi fundamental para engajar a criança nas interações, nas quais o toque teve papel de destaque ao substituir o estatuto do olhar. Esses achados confirmam nossa tese de que esse funcionamento na criança com cegueira ocorre com a inclusão do toque e da voz/fala, que servem como recursos primordiais para sua inserção na linguagem. Esperamos que essas constatações favoreçam reflexões para se pensar em caminhos alternativos para engajar a criança cega em cenas de atenção conjunta, contribuindo para a aquisição da linguagem.

ASSUNTO(S)

prosody touch language acquisition aquisição da linguagem toque prosódia criança cega atenção conjunta linguistica blind child joint attention

Documentos Relacionados