Narrativas de mães ouvintes de crianças surdas: oralidade, metáfora e poesia / Hearing mothers of deaf children narratives: orality, metaphor and poetry

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O objetivo deste trabalho é realizar uma análise lingüística de narrativas de mães ouvintes acerca da experiência de nascimento e criação de um filho surdo. No Brasil, calcula-se que 95% das pessoas que nascem surdas ou que se tornam surdas nos primeiros anos de vida são provenientes de famílias ouvintes que, normalmente, demoram alguns anos para perceber a falta de audição de seus filhos. Muitos pais ouvintes não têm um histórico de surdez na família e, por vezes, nunca tiveram contato com uma pessoa surda. Desconhecem, portanto, as particularidades da surdez e, na maioria das vezes, a enxergam como uma deficiência. Para agravar a situação, grande parte da comunidade médica, talvez inadvertidamente, enfatiza para os pais uma visão patológica da surdez ao centrar-se na questão da perda da audição. Sem informações e acreditando que seus filhos são deficientes, muitos pais ouvintes deixam de interagir com as crianças; ou restringem sua interação à satisfação de algumas necessidades básicas da criança, usando sinais caseiros para expressar que está na hora de comer, dormir ou brincar, por exemplo. Ainda que muitos estudos (Crocker, 2004; Gregory &Knight, 1998; Lane, Hoffmeister &Bahan, 1996) descrevam o chamado período de luto período no qual as mães ouvintes descobrem a surdez dos filhos e se comportam como se o filho que esperavam tivesse, de fato, morrido o presente trabalho se concentra nas estratégias que as mães ouvintes desenvolvem para sair desse período e se relacionar com seus filhos. As principais referências metodológicas utilizadas nesta pesquisa foram os estudos sobre narrativas desenvolvidos por Bruner (1990, 1995, 2004), Gee (1985, 1989, 2005), Labov (1967, 1997, 2001) e Ong (2006). Além disso, também embasaram este trabalho estudos desenvolvidos na Lingüística Cognitiva que se referem ao uso de metáforas no discurso cotidiano (Lakoff &Johnson,1980; Oakley, 2005; Talmy, 2000). Para a formação do corpus desta pesquisa, foram realizadas entrevistas com mães ouvintes de crianças surdas, seguindo os procedimentos de história oral propostos por Meihy (1991, 2005, 2007). Considerando asparticularidades da língua oral, as narrativas que compõem o corpus desta pesquisa foram transcritas de modo a ressaltar os ritmos, intermitências e estruturas, característicos do discurso oral e divididas em unidades entoacionais (Chafe, 1994), estrofes (Gee, 1989) e grandes histórias (Bell, 1988). Essa transcrição originou um modelo de apresentação de narrativas orais que buscou privilegiar os contornos da língua oral e enfatizar a interação entre pesquisador e entrevistado presente na situação particular da entrevista. A análise das narrativas mostrou que as mães ouvintes se valem de metáforas a fim de atribuir significados à sua experiência. A análise também mostrou a eficácia do modelo desenvolvido no que tange à evidenciação da estrutura dada pelas entrevistadas às suas narrativas, bem como no que diz respeito à interação e aos processos de negociação de tomada de turnos de fala entre os participantes da entrevista.

ASSUNTO(S)

estudos surdos life story oral narratives analysis história de vida história oral cognitive linguistics oral history. lingüística cognitiva análise de narrativas orais deaf studies

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