Música e representação nas cerimônias de morte em Minas Gerais (1750-1827): reflexões para o estudo da memória sonora na festa

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Este estudo visa refletir sobre uma memória que se formou através de uma prática ritual, definindo comportamentos a uma coletividade e promovendo em seus portadores a formação de uma mentalidade que se fundamentou na tradição religiosa portuguesa. As cerimônias fúnebres brasileiras, durante o antigo regime, seguiram o modelo persuasivo comum às festas barrocas, apresentando, através de suas regras e normas, um complexo sistema de representações. A partir do contato com textos sobre as festas brasileiras, chama atenção a falta de uma discussão verticalizada sobre o aspecto sonoro. O início da pesquisa se deu a partir do que se produziu musicalmente no Brasil, e mais especificamente em Minas Gerais, durante a idade do ouro, onde se constatou um significativo número de obras destinadas a eventos funerais. Entender a função ritual daquelas obras conduziu-nos ao estudo sobre a sonoridade da festa fúnebre relacionando-a com as práticas sociais em que elas estavam inseridas. Destacou-se, neste momento, a obra fúnebre do compositor mineiro José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), principalmente um ofício de defuntos que se tornou muito popular durante os séculos XIX e XX em várias cidades de Minas Gerais chegando até a São Paulo. O ofício ficou conhecido com o nome de Ofício das Violetas, pela peculiaridade de utilizar, em seu instrumental, violas (violetas como se diz até hoje em Portugal) no lugar dos violinos. Para as exéquias da Imperatriz Leopoldina em 1827, obrigatoriamente realizadas pelas Câmaras das principais cidades mineiras, foi executado, em Caeté, um ofício fúnebre de Lobo de Mesquita, o que incentivou o estudo das exéquias reais onde foram constatadas obras dedicadas às solenes cerimônias por expressivos compositores mineiros. Por fim, assim como os aspectos visuais da festa foram tão discutidos por vários teóricos, surgiu a necessidade de entender como a memória sonora é construída e aplicada nas mesmas festividades, relacionando-os com as formas de apropriação e as atitudes de morte durante o período colonial.

ASSUNTO(S)

música minas gerais 1500-1822 musica funebre.

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