Menopausa: imaginário social e conversas do cotidiano

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

A menopausa é o período da vida da mulher em que a capacidade procriativa cessa, sendo o fim do ciclo menstrual seu sinal mais conhecido (WHO, 1996). Este fenômeno, aparentemente natural na vida da mulher, vem se apresentando como uma rede complexa de conhecimentos e de sentidos, atravessada por conotações negativas, muito próximas da noção de doença. O objetivo deste trabalho foi identificar e analisar o uso de repertórios interpretativos (Potter e Wetherell, 1987) sobre a menopausa, presentes 1) nas práticas discursivas das conversas do cotidiano e 2) nos discursos da literatura científica da área da saúde. Partiu-se do pressuposto que neste jogo de intertextos pode-se identificar permanências e rupturas culturais, assim como a polissemia de sentidos (Spink, 1996b). As conversas (n=18), caracterizadas pelo surgimento espontâneo, constituíram o foco da análise. A literatura científica foi analisada para mapear o contexto maior de circulação das idéias. Como fonte foram utilizados os bancos de dados Medline e Psyclit (508 títulos de trabalhos, 113 resumos e 13 artigos históricos e de revisão). De maneira geral, as análises mostraram que o conhecimento e os sentidos atribuídos à menopausa são compostos por versões variadas que foram sendo produzidas, por meio de práticas sociais, em diferentes tempos e espaços, numa verdadeira simbiose entre sentidos novos e antigos. Percebe-se a hegemonia de repertórios que naturalizam a menopausa como sendo um problema. Além disso, a contextualização dos repertórios explicita que a construção social de conotações negativas é resultante de vários fatores, entre os quais pode-se mencionar: o processo de medicalização da menopausa; a noção de crise como algo inerente a este período; as relações de gênero e poder; e a concepção negativa do envelhecimento na cultura ocidental. Conclui-se apontando para a necessidade de desconstrução de discursos, científicos ou não, que acabam por cristalizar e naturalizar a menopausa como um período de sofrimento. Esses repertórios circulam pelo imaginário social e compõem as práticas discursivas do cotidiano, limitando as possibilidades de criação de novos sentidos

ASSUNTO(S)

repertórios interpretativos menopausa producao de sentido imaginário social conversas do cotidiano psicologia social neoplasias hepaticas menopausa mulheres de meia idade -- aspectos sociais

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