Gênero e saúde mental nos serviços residenciais terapêuticos: fragmentos de vidas contidas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta pesquisa aborda a saúde mental, a partir de uma perspectiva de gênero, focalizando a situação das moradoras de um Serviço Residencial Terapêutico (SRT), localizado no município de São José, SC, objetivando analisar as intersecções entre gênero, sofrimento psíquico, cidadania e subjetividade, de acordo com o seu ponto de vista. Em síntese, esta tese tenta responder aos seguintes objetivos: a) contextualizar o SRT feminino, mediante identificação do perfil sócio-econômico das residentes, buscando conhecer a rede de assistência, as políticas públicas relacionadas com gênero e saúde mental e as pesquisas sobre o assunto; b) conhecer como as residentes vivenciaram questões relacionadas ao gênero; c) como elas se vêem e se definem e como reconhecem a própria diversidade; d) analisar o seu processo de autonomia; e) realizar uma análise antropológica de determinados aspectos relacionados à cidadania; f) identificar as principais diferenças percebidas entre o SRT feminino e os SRTs masculinos, a fim de verificar em que medida as assimetrias de gênero estão sendo reproduzidas nestes serviços; g) verificar como se dão os itinerários terapêuticos, as trajetórias e o processo saúde/doença; h) compreender como as residentes dão significados às suas vidas; e os sentidos da experiência cotidiana subjetiva, analisando em que medida as questões de gênero permeiam suas histórias. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa qualitativa, fundamentada numa abordagem etnográfica. Os registros observacionais e discursivos foram trabalhados, mediante uma apreensão mais ampla desta realidade. Ao escutar as narrativas busquei compreender as práticas culturais deste contexto, situando-as num panorama social mais amplo, estabelecendo as relações entre os fenômenos específicos desta determinada visão de mundo, sob a perspectiva das seis residentes do Serviço. Empreguei nesta pesquisa qualitativa as seguintes técnicas: observação participante, análise documental, aplicação de um roteiro semi-estruturado de entrevista e elaboração das sínteses das trajetórias de moradoras do SRT, além da participação em grupos terapêuticos e visitas a todos os SRTs em Santa Catarina. A análise do discurso foi utilizada para interpretar os resultados. Foi possível concluir, primeiro, que o SRT funciona tanto como um novo espaço social para suas residentes, como um dispositivo de controle e de poder. Segundo, que embora este serviço represente um avanço em relação à situação anterior das residentes, do ponto de vista do gênero, a dinâmica do seu funcionamento favorece a reprodução dos papéis femininos tradicionais; terceiro, foi possível constatar que as desigualdades de gênero estão e estiveram presentes nas trajetórias das entrevistadas e também na organização dos serviços femininos e masculinos.

ASSUNTO(S)

cidadania serviços de saúde mental - são josé (sc) ciencias humanas relações de gênero saúde mental

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