FlorÃstica e ecologia das comunidades de briÃfitas em um remanescente de floresta atlÃntica (reserva ecolÃgica de GurjaÃ, Pernambuco, Brasil)
AUTOR(ES)
Shirley Rangel Germano
DATA DE PUBLICAÇÃO
2003
RESUMO
No Brasil, atà pouco tempo atrÃs, a maioria dos trabalhos abordava apenas a florÃstica e taxonomia das briÃfitas, no entanto, recentemente a ecologia do grupo comeÃou a ser melhor estudada. Alie-se a escassez de trabalhos sobre o assunto e a degradaÃÃo da Floresta AtlÃntica, um dos âhot spotsâ mundiais para a biodiversidade, e encontram-se as razÃes para se estudar a composiÃÃo e os padrÃes de distribuiÃÃo das briÃfitas. Para execuÃÃo deste trabalho foi escolhida a Reserva EcolÃgica de GurjaÃ, um dos maiores remanescentes de Floresta AtlÃntica da mata sul de Pernambuco (Lat. 08Â10â00â- 08Â15â00âS; Long. 35Â02â30â- 35Â05â00âO). Desta pesquisa foram gerados cinco artigos, de acordo com os objetivos propostos. Inicialmente, foi realizado o levantamento brioflorÃstico, coletando-se material durante os anos de 2000 e 2001, e apÃs identificaÃÃo, incorporando-se exsicatas ao HerbÃrio UFP da Universidade Federal de Pernambuco. ApÃs anÃlise de troncos vivos e mortos, rochas, folhas e solo, registraram-se 85 espÃcies de briÃfitas, Ãs quais foram adicionados seis registros anteriores totalizando 91 espÃcies para a Ãrea. Destas, 53 sÃo hepÃticas, 37 sÃo musgos e 1 à antÃceros. Das 23 famÃlias assinaladas, Lejeuneaceae (41 esp.) apresentou a maior riqueza genÃrica e especÃfica, o que confirma a sua predominÃncia em florestas tropicais. Lejeunea e Fissidens (7 esp. cada), Cheilolejeunea (6 esp.) e Calymperes (4 esp.) foram os gÃneros de maior representatividade. A maioria das espÃcies apresenta distribuiÃÃo neotropical e ampla ocorrÃncia nos Estados brasileiros. Foram encontradas nove espÃcies de primeira ocorrÃncia para o Estado: oito pertencem a Lejeuneaceae - Archilejeunea auberiana (Mont.) Evans, Cololejeunea cardiocarpa (Mont.) Evans, Colura greig-smithii Jovet-Ast, Diplasiolejeunea cobrensis Gott. ex Steph., Harpalejeunea stricta (Lindenb. &Gott.) Steph., Lejeunea caespitosa Lindenb., L. monimiae (Steph.) Steph., L. quinqueumbonata Spruce, e uma a Bryaceae - Bryum pabstianum C. Muell. De posse dos dados florÃsticos, procedeu-se à investigaÃÃo ecolÃgica levando-se em consideraÃÃo as comunidades, o gradiente vertical das epÃfitas, e o efeito da fragmentaÃÃo florestal sobre as briÃfitas. Os dados foram analisados estatisticamente e realizada anÃlise de agrupamento. No estudo de comunidades foram abordados os principais microhabitats: solo (plano e inclinado), folhas (glabra e pilosa), rochas, troncos mortos (decomposiÃÃo reduzida, mÃdia e avanÃada) e troncos vivos. Confirma-se a brioflora corticÃcola como a de maior riqueza florÃstica (33% das espÃcies), seguida da epÃxila (23%); as demais comunidades tÃm representatividade prÃximas. HepÃticas predominaram em relaÃÃo aos musgos nas comunidades epÃfila (23:1), corticÃcola (2:1); o inverso ocorreu na terrÃcola (1:3). As epÃxilas nÃo mostraram especificidade em relaÃÃo ao grau de decomposiÃÃo dos troncos; as briofloras dos estÃdios intermediÃrio e avanÃado foram as mais similares (70%). As comunidades corticÃcola e epÃxila apresentaram 75% dos representantes partilhados, enquanto terrÃcola formou um grupo praticamente isolado. Foram reconhecidas oito formas de crescimento, predominando tranÃado. Tema pouco abordado no Brasil, o padrÃo de distribuiÃÃo vertical de briÃfitas epÃfitas foi estudado para trÃs fanerÃgamas arbÃreas: Protium heptaphyllum Mart., Tapirira guianensis Aubl. e Bowdichia virgilioides H.B.K. Selecionaram-se cinco indivÃduos de cada espÃcie, emergentes ou de dossel, subdividindo-os em quatro nÃveis de altura: base (0-50cm), tronco (a partir de 2m atà a primeira ramificaÃÃo), ramos principais (dossel interno) e galhos finos (dossel externo). Utilizando tÃcnicas verticais para escalada coletaram-se, em cada nÃvel, amostras das briÃfitas e aferiram-se temperatura, umidade e luminosidade. Avaliaram-se a riqueza especÃfica, a freqÃÃncia, o grau de cobertura e as formas de crescimento. Foi obtida baixa riqueza especÃfica correspondente a 36 espÃcies, das quais 25 hepÃticas e 11 musgos. HepÃticas predominaram, ocorrendo no trajeto base-dossel um aumento da riqueza especÃfica devido, principalmente, Ãs Lejeuneaceae, famÃlia de maior representatividade (63%). As espÃcies mais freqÃentes foram Sematophyllum subpinnatum (Brid.) Britt., Cheilolejeunea adnata (Kunze) Grolle e Frullania caulisequa (Nees) Nees. Esta Ãltima e Isopterygium tenerum (Sw.) Mitt. destacaram-se como as de maior abundÃncia. Foram exclusivas de apenas um nÃvel de altura: cinco espÃcies do dossel externo, quatro do dossel interno e trÃs da base; sendo as demais generalistas. Houve maior riqueza de espÃcies e de formas de crescimento nos galhos. A similaridade entre as briofloras das espÃcies de forÃfitas foi relativamente elevada, superior a 60%. Troncos e galhos tiveram briofloras mais semelhantes (81,6%), do que base e ramos (60%). NÃo houve diferenÃa significativa estatisticamente, de riqueza especÃfica entre as espÃcies de forÃfitos e nem entre os nÃveis de altura. B. virgilioides e T. guianensis apresentaram briofloras caracterÃsticas de dossel e de subosque, o mesmo nÃo ocorreu em P. heptaphyllum, cujo padrÃo de distribuiÃÃo vertical foi relativamente uniforme em todos os nÃveis. Estes resultados corroboram, pelo menos em parte, a hipÃtese de que as briÃfitas epÃfitas respondem a um gradiente vertical. Os padrÃes de distribuiÃÃo foram semelhantes aos observados em floresta tropical Ãmida de terras baixas, embora com valores de riqueza especÃfica inferior. Finalmente, foi analisada a correlaÃÃo entre a riqueza e a composiÃÃo florÃstica das espÃcies de briÃfitas com o tamanho e a forma dos fragmentos da Reserva. Foram selecionados seis fragmentos florestais (F1-F6), de 9 ha e ca. 119 ha, em estÃdios de conservaÃÃo diversos. Para a anÃlise, consultou-se o banco de dados georreferenciado, selecionando-se aleatoriamente amostras de briÃfitas de 10 mortos, 10 troncos vivos e folhas de 10 arbustos ou Ãrvores em cada um dos fragmentos. Na maioria dos fragmentos foi detectada a presenÃa de briÃfitas epÃfitas, epifilas e epÃxilas em proporÃÃes distintas. Novamente as hepÃticas foram dominantes em relaÃÃo aos musgos, na proporÃÃo de 2:1. A maior proporÃÃo de epÃfilas ocorreu em F3 e F6, o que indica uma condiÃÃo de umidade mais elevada. O contrÃrio foi evidenciado, por exemplo, em F2 onde as epÃfilas foram ausentes, sendo este o fragmento de maior tamanho de borda. Os resultados nÃo confirmaram correlaÃÃo entre a riqueza de briÃfitas, o tamanho e a forma dos fragmentos. Estes remanescentes de floresta secundÃria, ainda, abrigam uma riqueza considerÃvel; no entanto, a presenÃa de espÃcies fotÃfilas, pioneiras e/ou ruderais, reflete um processo de degradaÃÃo. Apesar disto, foi registrada a presenÃa de Vitalianthus bischlerianus (PÃrto &Grolle) Schust. &Giancotti, endÃmica da Floresta AtlÃntica, e espÃcies de ocorrÃncia restrita ao Brasil como Riccardia regnellii (Aongstr.) Hell
ASSUNTO(S)
anatomia vegetal florÃstica briÃfitas reserva de gurjaÃ
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