Educação ambiental dialógica e representações sociais da água em cultura sertaneja nordestina: uma contribuição à consciência ambiental em Irauçuba - CE (Brasil).

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

Esta tese apresenta uma pesquisa-intervenção fundamentada na Educação Ambiental Dialógica, nos moldes da pedagogia freireana, sob uma Perspectiva Eco-Relacional. A investigação pretende tratar de um problema local-global: a água como lugar privilegiado no qual travamos uma discussão sobre a crise ambiental que possui singularidades nas culturas, mas que ocorrem em escala mundial. Parece-nos urgente, no contexto crítico em que nos encontramos, refletir quanto ao potencial dessas representações sociais, informações originárias do senso comum que se manifestam na linguagem, nos valores e nas atitudes como espaço-chave para uma Educação Ambiental que se propõe, política e socialmente, crítica. A pesquisa objetivou o levantamento das Representações Sociais da água de sujeitoschaves do povo da cidade de Irauçuba, no sertão do Ceará, no nordeste brasileiro. Povo que convive com a seca e a desertificação em processo, caracterizado como portador de uma cultura residualmente oral. Utilizamos, na pesquisa, entrevistas, observações etnográficas e história oral. Trabalhamos os dados com base na Teoria das Representações Sociais como um procedimento que concebe os valores, o agir e a linguagem como agentes mobilizadores, permitindo contribuir para a compreensão do ponto de vista popular, dos movimentos de enfrentamento presentes nos percursos populares ante os embates sociais pela água. Como resultados tivemos: os nós críticos presentes na trajetória de sentido, no percurso desejante, dos grupos populares associados aos bairros da cidade. Evidenciam-se marcos da luta pela água: o chafariz no bairro da Barragem; a caixa dágua e distribuição deficitária no bairro do Cruzeiro; o cata-vento defeituoso no Gil Bastos; o poço sem água no bairro da Rodoviária; O sistema de encanamento e a água que chega a cada três dias no bairro do Centro; os dejetos líquidos e esgotos no bairro da Esperança; a Estação de Tratamento de Água no bairro do Açude. Uma teia de representações sociais da água com as seguintes categorias: a invisibilidade da problemática da água e a visibilidade na falta, na cultura do silêncio e na resistência popular; a fissura entre o vivido e o pensado e a práxis na relação com a água; a naturalização, o utilitarismo e a monetarização da água; a divinização e a (in)finitude da água; a percepção de usufruto individual e bem social da água implicando na situação-limite e no inédito viável. Como parte do processo tivemos a intervenção por meio da constituição do fórum, do curso e dos movimentos populares instituídos ao longo do trabalho. Como (in)conclusões observamos a confirmação de nossa idéia prévia que é essencial pensarmos-agirmos na perspectiva evidenciada que uma educação ambiental para ser efetiva, no tocante a reflexões-ações sócio-ambientais, precisa, necessariamente, ser construída em parceria com o saber popular local de modo dialógico e eco-relacionado, possível de repercutir em transformações reais. A etapa de intervenção alcançou vincular a percepção coletiva das construções sociais locais sobre a problemática da água ao contexto politizador e criticizador mais geral do Fórum Cearense de Convivência com o Semi-Árido.

ASSUNTO(S)

educação ambiental cultura nordestina representações sociais da água ecologia

Documentos Relacionados