Avaliação de estratégias para desenvolver habilidades comunicativas verbais em indivíduos com autismo de alto funcionamento e síndrome de Asperger.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

O autismo de alto funcionamento (AAF) e a síndrome de Asperger (SA) são transtornos globais do desenvolvimento que, entre outros sintomas, apresentam em maior ou menor grau alterações nas habilidades comunicativas e sociais. Partindo da descrição das habilidades comunicativas verbais nestes dois quadros (AAF e SA) realizada por Lopes (2000), este trabalho foi desenvolvido em duas partes. Para a parte 1, o objetivo foi realizar um levantamento das estratégias / atividades e situações (contextos comunicativos) que favorecessem o uso de um maior número de habilidades comunicativas verbais e, conseqüentemente, uma maior extensão média dos enunciados (EME), complexidade de fala (CF) ou maior uso de habilidades narrativo-discursivas (HND) pelos participantes da pesquisa. Para a parte 2, o objetivo foi a aplicação das estratégias levantadas na parte 1, na forma original ou adaptada, nos participantes da pesquisa. Na parte 2 também foi verificado se o aumento da EME beneficiaria o uso de HND. Participaram deste estudo três indivíduos do sexo masculino, com 12 anos de idade, um deles com diagnóstico de SA e dois com diagnóstico de AAF. O material para a parte 1 foi constituído das gravações em vídeo já realizadas por Lopes (2000) em sua dissertação de Mestrado. Tal material havia sido coletado em sessões de interação de cada um dos participantes com a pesquisadora (cada gravação tinha duração de trinta minutos). Para a parte 1, foram avaliadas 5 sessões realizadas com cada um dos participantes, num total de 450 minutos de gravação para análise. Os resultados da parte 1 demonstraram que há uma reciprocidade comunicativa entre adulto e participantes e que os perfis comunicativos destes são semelhantes, já que os valores de EME e CF demonstrados pelo adulto eram maiores, mas se notava que a variação seguia a mesma exemplificando quando o adulto apresentava uma maior EME com um dos participantes, era exatamente este participante que demonstrava um maior valor de EME em relação aos demais. Desta forma, a parte 1 realmente possibilitou o levantamento das atividades / estratégias / situações facilitadoras e, conseqüentemente, a organização das estratégias aplicadas na parte 2 do estudo. O material para a parte 2 foi coletado com os mesmos indivíduos do estudo de Lopes (2000), que na época da coleta de dados da parte 2 estavam com 12 anos de idade. Os dados foram coletados mediante gravações em vídeo de sessões estruturadas de interação verbal entre cada participante e a pesquisadora durante oito meses. Para verificar os efeitos da aplicação das estratégias, foi utilizado um delineamento experimental de linha de base múltipla cruzando com os participantes, que constou de duas fases: a linha de base e a intervenção. Na linha de base, ocorreram situações espontâneas (não-planejadas) entre o adulto e cada participante, sendo que estes não foram submetidos a nenhum tipo de intervenção. Após a estabilidade da linha de base, iniciou-se a primeira fase da intervenção (sessões com freqüência de duas vezes por semana) e só se passava para a parte 2 da intervenção (sessões com freqüência semanal) após o indivíduo alcançar o objetivo final da fase 1 (aumento de 100% na EME da linha de base). Houve a diminuição gradual do número de sessões (semanal, quinzenal e mensal), para que não houvesse queda no desempenho dos participantes, sendo que o número de sessões variou para cada um deles. As estratégias aplicadas foram divididas em blocos: no primeiro bloco eram privilegiadas situações de conversa espontânea; no segundo bloco, atividades que envolvessem dificuldades específicas de linguagem com AAF e SA (como a fala pedante e a atribuição de duplos sentidos); o terceiro bloco era composto de jogos de regras que promovessem a maior clareza na exposição dos fatos e uma maior capacidade de argumentação; o quarto bloco era composto de solicitações de relatos de histórias ou acontecimentos e o quinto e último bloco era composto de atividades metalingüísticas. Os resultados da parte 2 mostraram que as estratégias propostas alcançaram, com os três participantes, o objetivo de aumentar a EME e, em conseqüência disto, promover um aumento no uso de HND. Ficam sugestões para que outras pesquisas sejam desenvolvidas de forma a investigar a manutenção dos resultados obtidos pelos participantes em outros locais ou ambientes (que não o de terapia fonoaudiológica) e em interação com vários interlocutores.

ASSUNTO(S)

intervenção autismo educacao especial comunicação e linguagem fonaudiologia

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