AS CONSTRUÇÕES CONCESSIVAS DE POLARIDADE NEGATIVA NO PORTUGUÊS DO BRASIL

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Este estudo tem como objeto as, aqui nomeadas, Construções Concessivas de Polaridade Negativa (CCPNs) de dois tipos [P nem que Q Tento estar presente, nem que seja por mensagens de texto(Revista Veja)] e [~P nem que Q - E daqui não saio, nem que me empurrem (Corpora NILC)] e, para desenvolvê-lo, lançou-se mão, principalmente, dos constructos teóricos da Lingüística Cognitva (LAKOFF, 1987; LAKOFF, JOHNSON, 1999; FAUCONNIER, TURNER, 2002; SALOMÃO 1997-2002; MIRANDA, 2000) e da Gramática das Construções ((LAKOFF, 1987; GOLDEBERG, 1995; SALOMÃO, 1997-2002; MIRANDA, 2000, 2002, 2006). Tendo a Lingüística de Corpus como metodologia (SARDINHA, 2004; ALUÍSIO, ALMEIDA, 2006), constituiu-se um corpus com ocorrências do português do Brasil, colhidas, através de métodos de busca online, de blogs, revistas em versão online da Editora Abril e do corpora NILC, totalizando 300 dados com o conectivo concessivo nem que. A análise dos dados, apoiada nos fundamentos da Pragmática da Polaridade (ISRAEL, 2004), levou à verificação da existência de dois tipos de CCPN, cuja prototipicidade foi determinada pela distribuição dos itens de polaridade: (1) nucleares afirmativas selecionam condições mínimas como Itens de Polaridade Positiva (IPP) (Recorra à aromaterapia para relaxar, nem que seja por 15 minutos (Revista Cláudia)), enquanto que (2) nucleares negativas selecionam as condições máximas, por vezes, hiperbólicas, como seus Itens de Polaridade Negativa (IPN) (o empresário não vai querer a estrada nem que o Estado implore (Revista Exame)). A maioria das construções do corpus são as do tipo afirmativo (230 ou 77,97%). A baixa ocorrência das negativas (22,3%) deve-se à complexidade cognitiva e às exigências discursivas envolvidas em uma negação. Além desse achado, promoveuse a descrição das pluridimensões da CCPN. Na conceptual, foram mostrados os esquemas imagéticos (ELO, CENTRO- PERIFERIA, ESCALA, FORÇA e DINÂMICA DAS FORÇAS) e as metáforas (MAIS É PARA CIMA- MENOS É PARA BAIXO, CAUSA É FORÇA FÍSICA, DISCUSSÃO É GUERRA) que permeiam a elaboração cognitiva das CCPNs, bem como foi apresentado o processo metonímico PARTE PELO TODO presente na base da CCPN Hiperbólica (Não largo, nem que a vaca tussa). Na dimensão pragmática, foi apresentada a configuração das CCPN enquanto atos de fala e o papel do contexto como desambigüizador da interpretação do ato ilocucionário no uso de tais construções. As análises evidenciaram ainda a não sinonímia semântico-pragmática das CCPNs em relação às demais construções da rede de concessivas do PB, pontuando sua distribuição discursiva (contextos mais informais) e sua especificidade semântica de polaridade negativa marcada pela locução conjuntiva nem que que preserva o significado lexical de negação adverbial do nem. Na dimensão morfossintática, foram apresentados os padrões modotemporais e os de ordenação sintática em seu entrelaçamento com os modos de significação semântico-pragmático da construção em tela. Por fim, foi elaborada uma rede parcial, radialmente organizada por relações de herança, exibindo o nódulo formado pela Construção Concessiva de Polaridade Negativa e suas duas construções herdeiras. As análises empreendidas consolidam a hipótese de que as CCPNs se constituem como um padrão construcional específico dentro da rede de construções concessivas do PB

ASSUNTO(S)

construções concessivas cognição linguística linguistica

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