A produção "pro gasto" : um estudo comparativo do autoconsumo no Rio Grande do Sul

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Esta dissertação tem por tema as funções que a produção para o autoconsumo desempenha na agricultura familiar gaúcha. Parte-se de um estudo comparativo do autoconsumo em quatro municípios (Veranópolis, Morro Redondo, Salvador das Missões e Três Palmeiras) que apresentam produção agropecuária, características socioeconômicas e culturais distintas. Os procedimentos metodológicos utilizados referem-se à aplicação de questionários (238), entrevistas semi-estruturadas (35), diário de campo e dados de fontes secundárias (IBGE, FEE, etc.). O objetivo principal é investigar a importância e as funções do autoconsumo em universos empíricos que apresentam dinâmicas da agricultura familiar diferenciadas. Para tanto, adotou-se três hipóteses. A primeira supõe que, acompanhando a diversidade da agricultura familiar, a produção para o autoconsumo apresenta diferença de importância e de tipos de alimentos consumidos nos municípios pesquisados. A seguinte, conjectura que esta diferença de importância entre municípios e estabelecimentos deve-se à dinâmica da agricultura familiar local, características do contexto social e de cada unidade familiar. A última hipótese considera que o autoconsumo é um dos fatores explicativos da condição social e econômica das unidades familiares e configura-se como uma estratégia de fortalecimento da autonomia das mesmas. Propor este debate significa retomar um tema pouco discutido na literatura brasileira, e que, embora muitas vezes marginalizado e/ou considerado sem relevância, desempenha importante papel na agricultura familiar. Esta produção, central na organização produtiva e econômica das unidades camponesas, torna-se complementar à medida que ocorre o processo de mercantilização da agricultura e a metamorfose de camponeses a agricultores familiares. Não obstante esta condição de complementaridade no processo produtivo, o autoabastecimento alimentar continua apresentando-se uma estratégia relevante para a reprodução social das unidades familiares. Talvez acreditando que se trate de uma produção transitória e fadada ao desaparecimento, poucos estudiosos e pesquisadores se interessam pelo tema, repercutindo também na desconsideração por parte das políticas públicas. No entanto, produzir para o consumo da família constitui uma estratégia de fortalecimento de sua autonomia, visto que propicia maior controle das unidades familiares sobre seus processos de produção e reprodução social. O autoabastecimento mantém sob controle da família (ao menos em parte) uma das dimensões mais importantes à sua reprodução, a alimentação. Ademais, é fonte de segurança alimentar; estratégia de diversificação dos modos de vida; forma de economização; modo de manter homem, natureza e trabalho integrados em co-produção; mecanismo de defesa pela característica da alternatividade destes alimentos; fulcro de sociabilidade e; ainda relaciona-se com a identidade das unidades familiares. Os resultados alcançados vão ao encontro das hipóteses, exceto em parte da primeira assertiva, onde foi possível observar uma homogeneidade dos hábitos alimentares nos universos pesquisados, e não, como se supunha, diferenças expressivas nos tipos de alimentos produzidos. As conclusões ratificam que esta produção é uma estratégia recorrente e importante para a autonomia da agricultura familiar. Não se trata de uma produção arcaica, mas sim de um elemento integrante do modo de vida rural contemporâneo e deve ser considerado como instrumento potencial para o desenvolvimento rural.

ASSUNTO(S)

veranópolis (rs) family farm agricultores morro redondo (rs) autoconsumption and autonomy consumo agricultura familiar três palmeiras (rs) salvador das missões (rs) desenvolvimento rural

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