Violence against women in the perspective of nurses from the basic health service network. / A percepção de enfermeiras da rede básica de saúde acerca da violência contra a mulher

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A violência doméstica contra a mulher é um evento complexo e muito prevalente no Brasil, sendo os serviços de saúde frequentemente procurados por essas mulheres, o que coloca serviços e profissionais de saúde em lugar de destaque no manejo desses casos. Considerando o papel do enfermeiro dentro do sistema de saúde, o objetivo do estudo foi compreender a percepção destes profissionais sobre a problemática. Para tal utilizou-se uma abordagem qualitativa, em que foram entrevistados 11 enfermeiras que trabalham nas Unidades Distritais de Saúde do município de Ribeirão Preto, utilizando um roteiro semi estruturado. Os dados foram processados, lidos atentamente e organizados nas seguintes unidades temáticas: 1-A visão das enfermeiras sobre a questão de gênero; 2-A visão das enfermeiras sobre a violência contra a mulher; 3-Atendimento: Rezo para não chegar nada no meu plantão[...] Quando chega é um problema!; 4-Aspectos Jurídicos: Está tudo no caderninho! e 5-Formação: Olha se foi, foi uma aula bem superficial. As enfermeiras entrevistadas percebem que houve uma mudança no papel da mulher na sociedade moderna, porém, mantêm uma visão tradicionalista de gênero; assim, identificam um momento de transição em que a "mulher moderna" vive entre o paradoxo de ser um sujeito social ativo e ser a "rainha do lar". Neste sentido, as enfermeiras entrevistadas percebem que a mulher de hoje apenas multiplicou funções, mas ainda não dividiu responsabilidades. Elas percebem ainda a liberdade sexual feminina como libertinagem; neste sentido prevalece discursos em que às mulheres é vedado o direito de exercerem sua sexualidade de forma livre, sendo este assunto tratado com denotações negativas. Associam a violência contra a mulher a aspectos relacionados à individualidade dos casais; aspectos externos relacionados ao estilo de vida imposto pela sociedade moderna e ao uso de álcool e drogas; atribuem a continuidade das relações violentas pelo medo, pela vergonha e por dependência financeira e moral de seus companheiros e pela falta de apoio social; assim, essas mulheres permanecem nas relações por não verem outra possibilidade de vida. Implícita na temática da violência contra as mulheres, está sempre presente nos discursos o fato das mulheres se manterem em relações assimétricas com seus parceiros, o que as tornam submissas e contribui para a manutenção do ciclo da violência. Quanto ao atendimento, sentemse os profissionais de saúde despreparados para lidar com a situação; reconhecem eles principalmente a violência física e focam sua assistência ao atendimento das lesões, e percebemos então a invisibilidade da violência contra a mulher pelos profissionais de saúde, que possivelmente se distanciam para evitar frustrações frente ao problema com o qual não se sentem preparados para lidar. Não possuem conhecimentos adequados quanto às questões jurídicas; e, assim, ao atender casos de violência, não se prendem aos fatores legais, mas sim a fatores de ordem pessoal, às especificidades do caso atendido e à própria estrutura dos serviços. Por fim, são unânimes em reconhecer a necessidade de treinamento para que possam melhor abordar o tema.

ASSUNTO(S)

enfermagem gênero violência doméstica contra a mulher serviços de saúde gender identity violence against women health services nursing

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