Velhos a margem na margem das ruas : a experiencia de uma moradia provisoria no municipio de São Paulo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Este trabalho discorre sobre um grupo de velhos que viveram nas ruas por um período de suas vidas e que posteriormente fizeram parte de um projeto de moradia provisória denominada Casa-Lar e Convivência São Vicente de Paula, no município de São Paulo. População de rua é um tema estudado mais intensamente a partir da década de 1990 e, desde então, foram criadas definições para conceituar quem vive na e da rua, criando tipologias para os moradores de rua e segmentando as diferentes fases da vida. Aos velhos, no entanto, dedicou-se menor atenção. No caso da população de rua e, especialmente dos velhos de rua, foi necessário identificar quais processos transformaram este segmento social em problema e objeto de ação política. O trabalho teve como objetivo geral analisar a efetivação de uma política pública para idosos de rua, a partir da criação da Casa-Lar e Convivência São Vicente de Paula. Os objetivos específicos foram analisar a passagem dos idosos pelas ruas e como a mudança para a instituição afetou seu cotidiano. O método usado foi a pesquisa-ação. Como resultado, observou-se que a história pregressa desses idosos era diversa, mas houve em comum o empobrecimento ao longo da vida e seu agravamento com a entrada na velhice. Neste contexto, pode-se estabelecer uma associação entre velhice e desamparo, entre a velhice e as ruas, o que configura uma situação duplamente marginal; para estes idosos, envelhecer significou entrar na decadência. Além disso, a pesquisa mostrou que estes velhos passaram por uma situação de liminaridade, de humilhação social e de desenraizamento. O grupo de moradores da Casa-Lar promoveu uma visibilidade política para os velhos de rua, redefiniu seus papéis e seu campo de ação. O relato dos velhos da Casa-Lar mostrou que a passagem pelas ruas foi uma vivência abrupta e traumática de rompimento, confirmando os achados de outros estudos sobre população de rua. No entanto, a narrativa de suas vidas pregressas mostrou que esta situação de rompimento ocorreu de forma gradual ao longo da vida; esses sujeitos constituíram suas histórias num espaço liminar e no trânsito entre uma situação mais formalizada e outra caracterizada pelo mundo das ruas, pelo trabalho informal e pela clandestinidade política. Os idosos pesquisados mostraram um alto grau de resiliência, tal como propõe o paradigma do curso de vida, o life-span. Observou-se um hiato entre a proposta da instituição e sua prática direcionada aos moradores. O tratamento dispensado aos moradores da Casa-Lar acabou por reproduzir uma estrutura que associa os velhos e os moradores de rua à decrepitude e à vadiagem. A criação da Casa-Lar originou-se por meio de uma ação política permeada por interesses das diferentes instituições - governamentais e particulares - que incorporaram a necessidade de uma ação direcionada aos idosos de rua, mas sem necessariamente atender suas demandas prioritárias. A criação desta instituição configurou-se como ação isolada, ainda que comprometida com a realidade vivida pelos idosos de rua, o que mostra a dimensão restritiva de uma ação política que atua, não com a dimensão social que lhe compete, mas em função de demandas imediatas e interesses específicos, sem uma reestruturação da concepção vigente sobre os idosos que vivem nas ruas e sem políticas efetivas e abrangentes

ASSUNTO(S)

elderly homeless gerontologia velhice gerontology homeles pessoas desabrigadas politicas publicas idosos - condições sociais public policies

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