Uma filosofia do qualquer : a gênese da primeira teoria da denotação de Bertrand Russell

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta dissertação tem um duplo objetivo. O primeiro deles ¿ e o principal ¿ é a tentativa de verificar uma hipótese acerca das razões de Bertrand Russell para conceber a sua primeira teoria da denotação, apresentada em The Principies of Mathematics (PoM). A teoria da denotação é urna explicação excepcional (no contexto da semântica de Russell) do significado de expressões denotativas da linguagem natural, expressões constituídas por alguma das seguintes seis palavras: "todo", "qualquer", "cada", "algum", "um"e "o"(ou suas declinações). Trata-se de apresentar a teoria de Russell como solução para um problema, e a hipótese que proponho é uma segundo a qual esse problema deriva da conjunção de três teses que Russell sustentava à época da publicação de PoM. Argumento que as ideias de Russell acerca da relação entre as expressões da linguagem natural e aquilo que lhes confere significado, da natureza dos constituintes do mundo e da relação entre mente e mundo no intercurso epistêmico formam um conjunto incompatível com a constatação trivial de que sentenças da linguagem natural que contêm expressões denotativas são inteligíveis. As ideias de Russell aludidas acima implicam que a inteligibilidade de uma expressão denotativa ¿ e, de modo geral, de qualquer menor item semanticamente ativo de uma sentença da linguagem natural ¿ requer a satisfação de duas condições: a existência de uma entidade no mundo que tal expressão representa e o vínculo epistêmico de contato entre o sujeito e tal entidade. A satisfação dessa dupla condição acarreta que, ao apreender o signifcado de uma expressão denotativa como, por exemplo, "todos os homens", eu estou em contato com todos os homens, o que, evidentemente, é impossível. Se o contato com aquilo que é o significado de um certo número de expressões denotativas é impossível (como no caso anterior), há que se postular um elemento semântico que não aquelas entidades no mundo, de modo que a inteligibilidade de tais expressões seja preservada. A teoria da denotação é esse postulado, e o elemento que medeia o vínculo entre a expressão denotativa e os objetos no mundo é o conceito denotativo. Pretendo também demonstrar que as ideias de Russell que conduzem ao problema acima noticiado sobrevivem ao abandono da teoria da denotação. Se é verdade que, a partir da publicação de On Denoting (OD), Russell adota uma perspectiva mais "desconfiada" acerca da transparência semântica da linguagem natural ¿ o que implica a recusa da análise proposta em PoM, onde expressões denotativas são expressões às quais se pode legitimamente atribuir significado isoladamente ¿, também é verdade que Russell (i) continuará a pensar no funcionamento de linguagens logicamente mais nítidas à maneira antiga, segundo a qual o significado das expressões dessas linguagens reduz-se, em última análise, à satisfação das duas condições mencionadas no parágrafo anterior; (ii) permanecerá concebendo os constituintes do mundo, que conferem significado às expressões da linguagem, como entidades objetivas, no sentido de não serem constituídas pela atividade mental; e (iii) que continuará dentro de uma perspectiva epistemológica segundo a qual o vínculo epistêmico entre sujeito e mundo é de contato ou direto, isto é, não-mediado por ideias ou representações.

ASSUNTO(S)

russell, bertrand, 1872-1970 filosofia contemporânea filosofia inglesa filosofia da matematica denotação linguagem natural

Documentos Relacionados