Uma compreensão etnometodológica da aprendizagem de língua estrangeira na fala-em-interação de sala de aula

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Os resultados alcançados por esta pesquisa apontam para uma compreensão etnometodológica da aprendizagem de língua estrangeira na fala-em-interação de sala de aula. O objetivo da pesquisa foi elaborar um posicionamento teórico e metodológico que permitisse analisar e descrever a aprendizagem de língua estrangeira desde a perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica, com o intuito de explorar o alcance e as limitações dessa abordagem para os estudos de Aquisição de Segunda Língua. Foram analisados dados de fala-em-interação de sala de aula de Espanhol como Língua Estrangeira, segmentados de um corpus de 24 horas de registro audiovisual gerado em um curso de línguas no Brasil. Para a análise, foram segmentadas seqüências interacionais com ocorrências de práticas interacionais pelas quais os participantes destacam palavras da língua estrangeira de forma relevante para a construção e reparo dos turnos de fala. Diferentemente do paradigma de pesquisa cognitivista adotado por estudos sobre aquisição de vocabulário da área de pesquisa de Aquisição de Segunda Língua (Pica, Young & Doughty, 1987; Paribakht & Wesche, 1993, 1997, 1999, 2000; Ellis, Tanaka & Yamazaki, 1994), a abordagem adotada nesta pesquisa permitiu mostrar evidências empíricas de aprendizagem de vocabulário na fala-em-interação. A análise dos dados mostrou que, para produzir e mostrar uns aos outros o trabalho de fazer aprendizagem de vocabulário de língua estrangeira, (a) os participantes produzem conhecimento intersubjetivo sobre práticas de descrição e categorização (Sacks, 1992; Schegloff, 2007) em língua estrangeira, orientando-se para identidades institucionais (Schegloff, 1992a) e invocando conhecimento compartilhado sobre práticas de descrição e categorização; e (b) invocam conhecimento compartilhado produzido em conjunto, em seqüências interacionais anteriores, para exibir competência e co-pertencimento à comunidade de prática lingüística que simultaneamente produzem, reorganizando as relações de participação (Goffman, 1979; Goodwin & Goodwin, 2004). Essa descrição do trabalho dos participantes aponta para uma compreensão etnometodológica de aprendizagem (a) como uma realização pública, intersubjetiva, emergente e contingente, produzida para os fins práticos das atividades desenvolvidas em cada interação; (b) observável nos métodos que constituem o trabalho dos participantes para produzir essa realização, que não são generalizáveis, mas adequados a um contexto e a identidades que eles reflexivamente instauram - institucionais ou não -, e a objetos de aprendizagem que eles definem e tornam relevantes; e (c) que produz relações de participação e pertencimento, já que implica a produção pública e intersubjetiva de competência para participar em atividades levadas a cabo em uma comunidade. Constatou-se que a microanálise, ao contemplar o tempo interno de seqüências de fala-em-interação, permite descrever a atualização, modificação ou produção de conhecimento compartilhado, sem necessidade de um desenho longitudinal para a geração de dados. Os métodos observáveis dos participantes para fazer aprendizagem constituem, em si, evidências empíricas de aprendizagem.

ASSUNTO(S)

estudo etnográfico língua estrangeira aprendizado

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