Três formas de segregação urbana e racial em Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo

AUTOR(ES)
FONTE

Estud. Lit. Bras. Contemp.

DATA DE PUBLICAÇÃO

30/09/2019

RESUMO

Resumo O artigo analisa três formas de segregação urbana presentes no romance Ponciá Vicêncio (2003), de Conceição Evaristo: nas favelas, nos presídios e nas zonas de prostituição. Argumenta-se que essa segregação não tem apenas caráter social, mas também étnico-racial e moral. Através das trajetórias de três personagens que se mudaram do campo para a cidade grande - Ponciá e Bilisa em busca de melhores condições de vida e Luandi à procura da irmã -, evidenciam-se essas separações no espaço urbano, em diálogo com o pensamento de Célia Maria Azevedo (1987), Luiza Bairros (1995; 2000), Sueli Carneiro (2001), Vera Malaguti Batista (2004), Marilena Chauí (2008), entre outros/as. Assim, percebe-se a segregação social e urbana de grupos como as prostitutas, a exemplo de Bilisa, que ficam restritas ao espaço da zona, dos negros encarcerados na delegacia onde trabalha Luandi, e das domésticas que, como Ponciá, descem o morro ou atravessam a cidade até a casa das patroas. Conclui-se que Conceição Evaristo denuncia, em Ponciá Vicêncio, a hierarquização dos espaços das cidades e a continuidade da lógica racista do período colonial após a abolição da escravatura, ao mesmo tempo que constrói personagens fortes e complexas que tensionam essas fronteiras.Abstract The article analyzes three forms of urban segregation in the novel Ponciá Vicêncio (2003), by Conceição Evaristo: in favelas, prisons and prostitution zones. It is argued that this segregation is not only social but also ethno-racial and moral. In the stories of three characters who move from the countryside to the big city - Ponciá and Bilisa in search of better conditions of life, and Luandi in search of his sister - the segregations become evident and dialogue with the ideas of Célia Maria Azevedo (1987), Luiza Bairros (1995, 2000), Sueli Carneiro (2001), Vera Malaguti Batista (2004), Marilena Chauí (2008), among others. Thus, we can see the social and urban segregation of groups such as prostitutes, like Bilisa, restricted to the prostitution zones, or the black men imprisoned in the police station where Luandi works, as well as the maids that, like Ponciá, descend the slum or walk across the city to get to the house of their employers. In conclusion, Conceição Evaristo denounces, in Ponciá Vicêncio, a spacial hierarchy in the cities and a continuity of the racist logic of the colonial period after the slavery abolition, at the same time that she creates strong and complex characters that strain these borders.

Documentos Relacionados