Subindo o morro : consumo, posição social e distinção entre famílias de classes populares

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo compreender e interpretar o papel do consumo na construção e manutenção de identidades individuais e coletivas, em famílias de pobres urbanos, na cidade de Porto Alegre. Entendendo o consumo como um processo cultural, busco compreender como indivíduos situados nos estratos mais baixos da hierarquia social brasileira se relacionam entre si e com o mundo por meio da aquisição e do uso dos mais variados bens e serviços. Para tanto, apoiei-me sobre um referencial teórico que privilegiou a interdisciplinaridade, transitando entre a Antropologia, a Sociologia e o Marketing. A opção pela etnografia, como abordagem metodológica, se deu por conta da intenção de verificar a função do consumo na lógica das relações sociais e familiares quotidianas dos pobres urbanos. Na busca pelos significados de suas práticas era preciso dar voz privilegiada aos informantes e transcender o nível do discurso. Mais que isso, o método etnográfico permitiu acessar as diferentes facetas do consumo no dia a dia dos pobres a partir de uma imersão em seu ambiente natural, promovendo uma “descrição densa” (GEERTZ, 1989) dessa realidade. Entre os bens que se mostraram importantes para o dia a dia dos indivíduos aqui pesquisados, a casa constitui-se como o lugar por excelência da família e para onde se direciona a maior parte do investimento doméstico. Os produtos eletrônicos desempenham o importante papel de colocar os indivíduos em sintonia com a sociedade de consumo, enquanto os móveis e eletrodomésticos organizam a vida doméstica e incrementam o desempenho dos papéis femininos na casa. O vestuário, por sua vez, se mostrou um importante veículo pelo qual os indivíduos mais jovens conseguem camuflar a sua identidade de pobre, que é positivamente afirmada por meio da “ética da fartura” no consumo de alimentos, a partir do qual eles buscam se afastar da necessidade e se opor, ao mesmo tempo, aos “pobres-pobres” e aos ricos. Já as marcas, possuem a função de potencializar os significados associados a cada categoria de produtos e são fonte privilegiada de informações acerca de sua qualidade. O crédito se revelou como a principal forma de aquisição de bens e como um sistema de obrigações que pode reforçar os laços de amizade entre os iguais. Na evolução de minha trajetória de pesquisa pude perceber a existência de nuances entre grupos de moradores da comunidade pesquisada, o que resultou na caracterização de três subclasses, cujas diferenças estruturais se devem, principalmente, a diferentes combinações de quantidades de Capital Econômico, Cultural e Social (BOURDIEU, 1987). De maneira geral, os resultados mostram que o consumo atua como elemento central na construção e manutenção de identidades na vida dos pobres urbanos. Contudo, em uma sociedade profundamente hierarquizada e desigual como a brasileira, o consumo não se mostrou capaz remover as históricas e cristalizadas barreiras sociais, mas se revelou um poderoso mecanismo de diferenciação intra-classes.

ASSUNTO(S)

consumer behavior marketing consumption of poor people comportamento do consumidor antropologia do consumo poor urban people consumo : aspectos sociais distinction etnografia ethnography classes sociais classes populares

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