Serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU) e a assistência às urgências psiquiátricas
AUTOR(ES)
Diego Bonfada
FONTE
IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
DATA DE PUBLICAÇÃO
08/11/2010
RESUMO
O objetivo desse trabalho, caracterizado como uma pesquisa aplicada, de abordagem qualitativa, exploratória e do tipo estudo de caso, foi analisar as concepções e práticas dos profissionais de saúde do SAMU de Natal-RN sobre o atendimento às urgências psiquiátricas. As informações foram coletadas entre os meses de março e abril de 2010, por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas com 24 profissionais de saúde lotados no SAMUNatal e da utilização da técnica da observação direta, feita na sala de regulação médica da instituição. Tanto o número de profissionais participantes nas entrevistas quanto o tempo de realização das observações foram determinados pelo método da saturação na coleta de informações em pesquisas qualitativas. As entrevistas e observações foram transcritas e submetidas à técnica da análise de conteúdo, mais especificamente, da análise temática, o que possibilitou o alcance de níveis mais profundos, que ultrapassaram o que foi simplesmente manifesto nas falas, atingindo a relação entre as categorias e estruturas sociais do problema de pesquisa. Diante disso, foram construídas três categorias de análise, a saber: concepções e conceitos de urgência psiquiátrica dos profissionais de saúde do SAMUNatal; a assistência às urgências psiquiátricas no SAMU-Natal; e a Reforma Psiquiátrica brasileira sob o olhar dos profissionais de saúde do SAMU de Natal-RN. A reflexão sobre as informações analisadas revelaram discussões a respeito do estigma e preconceito sobre a doença mental, bem como, apontaram para alguns entraves que prejudicam a assistência ao sujeito em sofrimento mental no SAMU-Natal. As concepções sobre o sujeito em crise psíquica dos profissionais de saúde entrevistados envolvem os conceitos de imprevisibilidade, agressividade e do risco, elementos estigmatizantes e historicamente associados à ideologia da periculosidade social e necessidade de segregação do doente mental. O predomínio dessas concepções, no discurso dos profissionais de saúde, tem reflexos identificáveis na assistência prestada pelo SAMU-Natal às demandas psiquiátricas, na qual se destacam: a solicitação indiscriminada da polícia militar durante as intervenções em crise psíquica, a negligência com as ocorrências que envolvem pacientes de saúde mental, bem como, a prática assistencial repetitiva e direcionada à contenção física, medicação e ao transporte para hospital psiquiátrico. Associado a isso, os profissionais demonstraram compreensões deturpadas e reducionistas da Reforma Psiquiátrica brasileira e, em sua maioria, não deram credibilidade ao atual modelo de atenção à saúde mental pautado no tratamento psicossocial, remetendo suas falas à necessidade de internamento dos pacientes psiquiátricos. Nesse sentido, percebemos que o modelo hospitalocêntrico e excludente concebido pela psiquiatria clássica ainda permanece vivo no ideário desses profissionais como referência para a assistência às urgências psiquiátricas. Portanto, a pesquisa revelou uma série de elementos que nos fazem pensar a respeito dos desafios que o setor saúde e a sociedade ainda precisam enfrentar para concretizar os princípios e diretrizes da Reforma Psiquiátrica brasileira
ASSUNTO(S)
saúde mental emergências intervenção na crise psiquiatria enfermagem mental health emergencies crisis intervention psychiatry
Documentos Relacionados
- Serviço de atendimento móvel de urgência e as urgências psiquiátricas
- Perfil de atendimento e satisfação dos usuários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)
- Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) do Estado da Bahia: subfinanciamento e desigualdade regional
- Análise do serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU) de Belo Horizonte via simulação e otimização
- Conhecimento de estudantes de medicina sobre o funcionamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)