Riqueza, abundância e microhabitat de aves papa-formigas (Thamnophilidae) em remanescentes florestais da bacia hidrográfica do rio Tibagi, sul do Brasil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

O objetivo deste estudo foi investigar a riqueza, a abundância e o uso do habitat de aves da família Thamnophilidae em remanescentes florestais ao longo do gradiente altitudinal da bacia hidrográfica do rio Tibagi (BHT). Quatro áreas foram selecionadas: 1) no baixo Tibagi (B1, 550 m, Floresta Estacional Semidecídua); 2) no médio Tibagi (M1, 800 m, transição entre o alto e o baixo Tibagi); e no alto Tibagi 3) (A1, 1.000 m, Floresta Ombrófila Mista); e 4) (A2, 920 m, floresta Ombrófila Mista). Em cada área foram estabelecidas duas trilhas de 1.000 m de comprimento para caracterização da vegetação, com base em 14 variáveis ambientais, do microhabitat com base em 13 variáveis e da abundância das espécies, através do método de pontos de escuta. Também foi registrada a distribuição vertical, a velocidade média de forrageio e o substrato explorado pela ave. Para análise dos dados quantitativos foi utilizada análise de variância (ANOVA unifatorial/Teste de Tukey), Kruskal-Wallis/ANOVA e o teste G com fator de correção (Gadj). Dados semiquantitativos e de abundância foram sumarizados através da Análise dos Componentes Principais (ACP) e Análise de Correspondência Destendenciada ou com remoção de efeito de arco (ACD) respectivamente. O Índice de Similaridade de Sørensen foi aplicado para testar a semelhança qualitativa e quantitativa entre as áreas. Árvores menores de 30 cm de circunferência a altura do peito (CAP) (Kruskal-Wallis/ANOVA = 141, 4; gl = 3 p <0,001) e maiores que 100 cm de CAP (Kruskal-Wallis/ANOVA = 43, 3; gl = 3 p <0,001) foram menos abundantes em M1 que nas outras áreas. O eixo 1 da ACP da caracterização da vegetação (auto-valor = 2,68) explicou 38,36% da variância. O eixo 2 (auto-valor = 1,20) explicou 17,18% da variância. Esta ACP tendeu a separar M1, com estrato inferior mais denso, e B1, com estratos superiores mais densos. A1 e A2 se agruparam mais próximos de B1, influenciadas pela densidade dos estratos médio e superior. O eixo 1 da ACP para as espécies em B1 (auto-valor = 3,10) explicou 38,75% da variância e o eixo 2 (auto-valor = 1,31) explicou 16,35%. Em M1 o eixo 1 auto-valor = 3,40) explicou 37,72% da variância e o eixo 2 (auto-valor = 1,25) explicou 13,91%. Nos dois casos houve uma tendência, mais marcante em B1, de separação das espécies de estrato inferior daquelas dos estratos superiores. O substrato preferencial de todas as espécies em B1 foi emaranhados de cipó. Em M1, apenas Herpslochmus rufimarginatus foi registrado preferencialmente neste substrato enquanto Drymophila rubricollis foi registrada 100% em bambu. Em A1, Thamnophilus caerulescens foi registrado em emaranhados de cipó e folhagem, em proporções semelhantes, enquanto Dysithamnus mentalis foi registrado preferencialmente em folhagem. Em A2, T. caerulescens foi registrado quase exclusivamente em folhagem, enquanto D. mentalis selecionou vários tipos de substrato. Com relação a distribuição vertical das espécies, H. rufimarginatus selecionou locais em média mais altos que todas as outras espécies (ANOVA/Teste de Tukey p <0,0001), enquanto Pyriglena leucoptera, Mackenziaena severa e D. rubricollis selecionaram os locais em média mais baixos na vegetação (ANOVA/Teste de Tukey p <0,0001). A velocidade média de forrageio de H. rufimarginatus foi, em média, mais lenta que todas as outras espécies (ANOVA/Teste de Tukey p <0,0001), enquanto a velocidade média de forrageio de P. leucoptera foi, em média, maior que as outras espécies, com exceção de Hypoedaleus guttatus e D. rubricollis (ANOVA/Teste de Tukey p <0,05). O número de espécies registrado em cada área (6 em B1, 7 em M1, 6 em A1 e 4 em A2; 9 no total) foi semelhante (teste Gadj = 0,8; gl = 3; p >0,01). Apenas duas espécies ocorreram nas quatro áreas. Duas espécies foram exclusivas de B1, enquanto três outras não foram registradas nesta área. Considerando as espécies em conjunto, o número médio de contatos por amostragem e a abundância total em B1 foi superior ao registrado nas outras áreas (ANOVA/Teste de Tukey p <0,001). O eixo 1 da ACD da abundância das espécies teve autovalor = 0,56 e separou B1 das outras três áreas (ANOVA/Teste de Tukey p <0,001). O 2º eixo teve auto-valor = 0,23 e agrupou parcialmente M1 e A1 (ANOVA/Teste de Tukey p <0,001). A menor similaridade qualitativa (Cs = 0,4) ocorreu entre B1 e A2 e a quantitativa (CN = 0,67) entre B1 e A1. Os maiores valores de similaridade foram encontrados entre M1 e A1 (Cs = 0,92) e A1 e A2 (CN = 0,96). A substituição de espécies que ocorre ao longo da BHT indica que, em termos de conservação, cada uma das três regiões (alto, médio e baixo Tibagi) necessita de áreas de referência distintas.

ASSUNTO(S)

formicariidae aves - ecologia ecologia animal ecologia florestal zoologia formicariidae forest ecology zoology

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