Revisitação aos atores e territórios psicotrópicos do Porto: Olhares etnográficos no espaço de 20 anos

AUTOR(ES)
FONTE

Civitas, Rev. Ciênc. Soc.

DATA DE PUBLICAÇÃO

08/04/2019

RESUMO

Resumo: Este artigo tem como proposta acompanhar a evolução dos atores e dos territórios psicotrópicos desde o início dos anos 90 até à atualidade, tendo por base o conhecimento gerado por duas investigações etnográficas levadas a cabo no Porto. A segunda, atualmente em curso, é a revisitação da primeira, realizada por um dos autores nos anos 90. As unidades de estudo, tanto na primeira etnografia como na atual, são espaços situados no interior de bairros sociais ou nas suas imediações nos quais há concentração de indivíduos com interesses nas drogas, sejam eles comerciais ou de consumo. Ambas as pesquisas caracterizam as dinâmicas territoriais do fenómeno droga bem como os seus principais protagonistas em territórios psicotrópicos que se tornaram referenciados no discurso mediático como “bairros das drogas”. Relativamente aos atores aprofundamos a fenomenologia do “agarrado”, descrevendo as suas práticas e vivências, as funções várias que pode desempenhar no funcionamento do território psicotrópico, as estratégias que desenvolve na rua para conseguir financiar o seu consumo. Encontramos hoje sensivelmente o mesmo perfil sociográfico dos atores que caracterizámos na primeira investigação, se excetuarmos o facto de naquela altura haver bastantes indivíduos mais jovens. Quanto aos territórios psicotrópicos, a possibilidade de os olharmos com 20 anos de distância entre as duas etnografias permite notar: a estabilidade temporal das suas características e funcionamento; a grande longevidade de alguns deles, que continuam hoje com a sua localização, dinâmicas e funções mais ou menos inalteradas; grande capacidade de resistência às investidas policiais.Abstract: This paper describes and analyses the development of psychotropic actors and territories from the early 90's until today, based on two ethnographies carried out in the city of Porto (Portugal). The second ethnography, currently ongoing, is a revisitation of the first one, which was undertaken by one of the authors in the 90's. In both ethnographies, the research units are territories located in housing estates – or their surroundings – in which there is a concentration of individuals with commercial or consumptive interests in drugs. Both studies portray the territorial dynamics of the drugs phenomenon, as well as its main protagonists in psychotropic territories that the media describe as “drug neighborhoods”. We explore the phenomenology of the “junkie”, describing his/her practices and ways of living, the functions he/she may perform in the operation of the psychotropic territory, and the strategies he/she develops to finance his/her drug use. The current actors' sociographic profile is similar to the one described in the first study, the difference being that in the past there were many younger individuals. Regarding the psychotropic territories, this revisitation authorizes stating the stability of their characteristics and operation; their longevity in terms of location, dynamics and functions; their great resistance to police charges.

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