Representações sociais da dengue: aproximações e afastamentos entre o discurso da comunidade e da mídia impressa.

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

27/08/2012

RESUMO

Objetivou-se apreender as representações sociais (RS) da dengue elaboradas por moradores de uma zona urbana de risco e das notícias veiculadas pela mídia impressa. Utilizou-se a Teoria das Representações Sociais como aporte teórico. A tese foi dividida em duas partes (i) marco teórico e (ii) estudos empíricos: uma pesquisa de campo e outra documental. O primeiro estudo contou com 563 participantes, dos quais 263 são estudantes do Ensino Médio, a maioria do sexo masculino (56%), com idades entre 14 e 18 anos (M=15,9; DP=1,1) e 300 adultos, a maioria do sexo feminino (63%), com idades entre 20 e 59 anos (M=34,9; DP=10,7), ambos os grupos residem em uma zona urbana de risco em Cuiabá, MT. Como instrumentos foram utilizados, questionário biossociodemográfico, associação livre de palavras (estímulos indutores: dengue, sintomas da dengue, causas da dengue e cuidados para evitar a dengue) e entrevista em profundidade. Os dados advindos do questionário foram processados pelo PASW 18 e analisados por meio de estatística descritiva. O software Trideux foi utilizado para análise fatorial de correspondência das associações livres e variáveis dos participantes. As interlocuções dos participantes foram processadas pelo software ALCESTE e analisadas por meio da análise lexical (procedimentos padrão e análise cruzada). Os resultados evidenciaram que 40% dos adolescentes e 43% dos adultos afirmaram já ter contraído dengue. Os campos semânticos associados à dengue pelos dois grupos foram objetivados pelas palavras doença e morte, transmitida pelo mosquito. A dengue foi representada como sinônimo do mosquito causador da doença, que submete as pessoas ao perigo e medo. As manifestações da dengue foram ancoradas em aspectos físico-orgânicos (febre, dor de cabeça, hemorragia, manchas vermelhas, dor muscular, vômito, dor no corpo, falta de apetite, cansaço, dor nos olhos, ânsia) e psicoafetivo (tristeza). As causas foram associadas às pessoas, que certamente acumulam água quando da sua escassez (falta água), deixando a água parada em caixa destampada, além de deixarem pneu velho, lixo, garrafas e o quintal sujo, potenciais criadouros do vetor. Quanto aos cuidados para evitar a dengue, foram objetivadas algumas alternativas de prevenção e controle da doença (colocar areia no vaso, tampar a caixa, cuidado, não deixar água parada, limpeza, limpar as calhas), as quais foram ancoradas em dimensões normativas e comportamentais veiculadas pela mídia. A análise das entrevistas apresentou 5 classes temáticas (caracterização do bairro; políticas públicas e mídia; manifestações da dengue, atendimento médico e dengue hemorrágica; atitudes e hábitos arraigados; concepções e fontes de informação), complementando o conhecimento sobre as RS compartilhadas pelos grupos de pertença. O segundo estudo foi uma pesquisa documental (matérias jornalísticas sobre dengue e epidemia da dengue veiculadas nos jornais a Folha de São Paulo e A Gazeta). A análise do material verbal realizada pelo ALCESTE (procedimento padrão e análise cruzada) viabilizou 5 classes temáticas (epidemia de dengue em Ribeirão Preto; dengue, sintomas e exames físicos especializados; casos de dengue em Mato Grosso; potenciais criadouros de dengue e práticas de prevenção e; investigações científicas acerca da dengue). Os achados de ambos os estudos apresentaram RS consensuais. Isto é, as mensagens educativas veiculadas pela mídia impressa são incorporadas, difundidas e propagadas pelos moradores. Por outro lado, verificaram-se alguns dissensos entre a mídia impressa e os atores sociais. Para a primeira, o saber é pautado pelo discurso epidemiológico menos evidente nas vozes dos moradores de zona urbana de risco para a dengue. Estes, por sua vez, ancoraram o saber em aspectos macroestruturais, destacando suas vivências histórico-factuais, além dos aspectos psicoafetivos e relacionais diante da magnitude da enfermidade. Os resultados apontaram a necessidade de reformulação de programas de educação em saúde para prevenção e controle da dengue, concedendo atenção especial ao saber popular.

ASSUNTO(S)

educação e comunicação em saúde mídia impressa dengue representações sociais psicologia social dengue social representations printed media education and health communication

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