Reflexões sobre os sistemas de migração internacional: proposta para uma análise estrutural dos mecanismos intermediários

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo principal analisar o papel dos mecanismos intermediários nos sistemas sociais de migração. Ao propor uma perspectiva processual e relacional para o entendimento do fenômeno migratório, foi desenvolvida uma análise estrutural formal que possibilitou a comparação de doze sistemas empíricos de migração por meio de suas propriedades estruturais básicas. O exercício da análise estrutural formal tornou-se possível por meio dos subsídios fornecidos pela Teoria dos Grafos e pela Análise de Redes Sociais. Assim, os chamados modelos estruturais de migração, que constituem o resultado objetivo deste trabalho, são abstrações formais rigorosas, de sistemas empíricos particulares (oito casos de migrações internacionais e 4 casos de migrações internacionais pertencentes, especificamente, ao sistema brasileiro), que permitem avaliar e compreender as qualidades gerais do fenômeno migratório concreto. A análise dos mecanismos intermediários (determinados como posições estruturais nos sistemas, ocupadas empiricamente por agentes, recrutadores, brokers, familiares, amigos, etc.) procura mostrar a importância fundamental dessa categoria estrutural para a organização e expansão dos fluxos migratórios entre origem e destino. Para tanto, testa-se a hipótese central de que todo sistema de migração deve possuir posições estruturais de intermediação, responsáveis pela conexão exclusiva entre posições estruturais na origem e no destino. Além disso, tais posições intermediárias devem ser ocupadas, concretamente, por atores particulares que atuem na prática como atravessadores (brokers), responsáveis pelo contato e transmissão de pessoas, informações e recursos entre os outros atores e posições do sistema. Junto à análise e às considerações metodológicas propostas, apresenta-se uma revisão crítica sobre as teorias e conceitos utilizados, tradicionalmente, pelos cientistas que estudam as migrações. Por meio de uma arqueologia conceitual, propõe-se a reflexão acerca da categoria migração, sua natureza, usos e efeitos sobre nossa percepção cotidiana (de cientistas, de políticos e de pessoas comuns) do fenômeno vivido. Procura-se mostrar que a percepção analítica (científica) sobre os deslocamentos humanos depende, em larga medida, do contexto histórico no qual transcorre a migração, bem como das categorias mentais elaboradas pelos indivíduos (migrantes e não-migrantes) em relação no contexto migratório. Isto é, sustenta-se que os deslocamentos humanos implicam a sobreposição de trajetórias individuais e coletivas no espaço físico e social e que, da configuração dessas trajetórias percebidas nesse espaço multidimensional, emerge o sentido prático e teórico da categoria migração. Finalmente, ao se refletir criticamente sobre o sentido prático e teórico conferido à migração por cientistas, políticos e pessoas comuns que, de algum modo, vivem o fenômeno migratório, percebe-se a existência de paradoxos inerentes ao ato de migrar, que, na maior parte das vezes, permanecem obscurecidos pelas análises e ausentes do centro dos debates contemporâneos mais importantes sobre o desenvolvimento humano.

ASSUNTO(S)

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