Raciocínio emocional e regulação afetiva numa perspectiva desenvolvimental na infância

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Este estudo investigou a ocorrência do raciocínio emocional na infância, enquanto um fenômeno natural do desenvolvimento, bem como, formas de regulação emocional (RE) e sintomatologia fisiológica percebida frente à emoção de medo. Foram avaliadas, também, as relações destas variáveis com nível de estresse, nível intelectual, sexo e idade para uma amostra não-clínica de crianças da educação infantil (pré-escola) e ensino fundamental de duas escolas (municipal e privada) (n = 112; faixa etária entre 6 e 10 anos). As crianças foram testadas, inicialmente, a partir da Escala de Stress Infantil e do Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. Posteriormente, os participantes deram respostas nas categorias sintomas fisiológicos, grau de periculosidade (avaliação do raciocínio emocional) e estratégias de RE frente a oito scripts/histórias envolvendo informações de ameaça e segurança para dois tipos de contexto: interação social e integridade física. Os resultados indicaram uma correlação significativa entre a sintomatologia fisiológica e o medo para todos os scripts, o que confirma a ocorrência de raciocínio emocional para esta amostra. Isto é, as crianças se referiram a perigo e a sintomas fisiológicos de ansiedade para scripts com e sem informação evidente de ameaça, indicando a presença de raciocínio emocional, e que o mesmo está associado ao desenvolvimento normal (raciocínio emocional desenvolvimental). O raciocínio emocional se mostrou mais perceptível para o contexto envolvendo interações sociais e o fator idade interferiu na capacidade discriminativa frente à presença/ausência de periculosidade apresentada no script. Assim o raciocínio emocional se torna mais complexo à medida que o aparato cognitivo da criança é aperfeiçoado. A escala de estresse não apresentou correlação com alguns scripts do contexto interação social utilizados. Este dado indica que a emoção subjacente a certos contextos sociais ameaçadores possa não ser o medo, mas sim a vergonha e a preocupação. O sintoma fisiológico mais freqüente foi coração batendo muito rápido, demonstrando que as crianças deste estudo possuem uma percepção acurada para este sinal fisiológico em específico. Este dado sugere que a atenção focalizada sobre os sintomas fisiológicos pode estar na base do raciocínio emocional desenvolvimental. Quanto às estratégias de RE, os dados mostraram que as crianças utilizaram com uma freqüência maior as estratégias de interação social (contexto integridade física), e atividade de distração (contexto interação social). Isto indica que as estratégias de RE podem estar ligadas ao contexto da emoção (ameaça física e ameaça social, respectivamente) e que a RE ocorre na presença de raciocínio emocional. Este fato indica que o raciocínio emocional desenvolvimental além de não interferir nas habilidades de RE da criança, requer repertórios específicos de regulação do medo em diferentes contextos. Finalmente, as respostas de estratégias de RE, bem como as respostas de raciocínio emocional (sintomas fisiológicos e grau de periculosidade percebidos) não foram influenciadas pelo sexo ou nível de inteligência. Todos estes dados levam à conclusão de que o raciocínio emocional pode ocorrer na infância vinculado ao desenvolvimento normal. O caráter patológico do raciocínio emocional apontado na literatura, poderia ser caracterizado pela intensificação da emoção experimentada (presença de psicopatologia) e da ação de vieses cognitivos. Nas fases posteriores do desenvolvimento, este fenômeno poderia refletir um entrave na capacidade de discriminação da periculosidade de estímulos, dificultando a percepção apropriada dos mesmos no ambiente, bem como o uso das estratégias de RE adequadas em função de múltiplos fatores (história de vida, repertório rico em comportamentos de fuga e esquiva etc.).

ASSUNTO(S)

psicologia infância regulação emocional ansiedade nas crianças childhood emoções nas crianças emotional reasoning raciocínio emocional psicologia infantil raciocínio (psicologia) emotional regulation

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