Qual é o perfil de resistência antimicrobiana ambulatorial às fluoroquinolonas em casos de cistite não complicada causada por Escherichia coli no Brasil?

AUTOR(ES)
FONTE

Núcleo de Telessaúde Espírito Santo

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/06/2023

RESUMO

Há carência de estudos de qualidade aplicáveis à Atenção Primária à Saúde sobre o tema no Brasil. Os principais estudos utilizam amostras de urina de pacientes atendidos em serviços de média e alta complexidade, o que pode introduzir importantes vieses no trabalho, prejudicando o grau de generalização dos resultados para os pacientes atendidos em Unidades Básicas de Saúde.

Em linhas gerais, estes estudos brasileiros mostram que o perfil de suscetibilidade da E. coli às fluoroquinolonas (norfloxaxina, ciprofloxacina e levofloxacina) é favorável (<20%), embora a resistência da bactéria a esses antibióticos tenha crescido nos últimos anos, o que merece atenção de profissionais de saúde e gestores

. Desta forma, é importante que o profissional de saúde esteja atento, pois há pesquisas que demonstram uma taxa de resistência da E. coli às fluoroquinolonas superior a 20% a depender do cenário do estudo

.

Miranda et al.

encontraram uma taxa de resistência antimicrobiana global (não delimitada à E. coli como causa da ITU não complicada) às fluoroquinolonas de 12% em pacientes com infecção urinária não complicada atendidos na emergência de um hospital universitário, sendo que dados de 2005 e 2011 mostram as seguintes sensibilidades da E. coli: à norfloxacina, de 92.7% para 85.7%; à ciprofloxacina, de 92.9% para 84.9%; e à levofloxacina, mantidas em 100% nos dois momentos avaliados.

Os resultados de sensibilidade global às quinolonas no estudo de Miranda et al.

mostram que: à norfloxacina, variou de 91.3% para 75.6% de 2005 para 2011; à ciprofloxacina, de 90.1% para 83.4%; à levofloxacina, não houve variações, mantendo-se em 100%; e ao ácido nalidixico, de 88.7% para 78.1%.

Quadro semelhante pode ser visto em termos internacionais, sendo que até recentemente a sensibilidade da E. coli às fluoroquinolonas era superior a 90% em grande parte dos territórios da América do Norte e Europa, o que vem mudando no decorrer do tempo

.

Desta forma, o uso da fluoroquinolonas em casos de infecção urinária não complicada deve ser feito com cautela, respeitando o perfil de resistência aos antimicrobianos locais6.

É fundamental para o sucesso do tratamento que o diagnóstico correto seja associado ao emprego racional dos antibióticos. Assim previne-se o aumento da resistência bacteriana e diminuem-se os gastos para o paciente e para os serviços de saúde. Portanto, o monitoramento da resistência e da sensibilidade dos patógenos pode evitar o erro terapêutico e o desenvolvimento de multirresistência bacteriana.

1. Oplustil CP et al. Multicenter evaluation of resistance patterns of Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Salmonella spp and Shigella spp isolated from clinical specimens in Brazil: RESISTNET Surveillance Program. Braz J Infect Dis. 2001 Feb;5(1):8-12. Disponível em:

2. Rocha JL, Tuon FF, Johnson JR. Sex, drugs, bugs, and age: rational selection of empirical therapy for outpatient urinary tract infection in an era of extensive antimicrobial resistance. Braz J Infect Dis. 2012 Mar-Apr;16(2):115-21. Disponível em:

3. Miranda EJ et al. Susceptibility to antibiotics in urinary tract infections in a secondary care setting from 2005-2006 and 2010-2011, in São Paulo, Brazil: data from 11,943 urine cultures. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 2014 Jul-Aug;56(4):313-24. Disponível em:

4. Sanchez GV, Master RN, Karlowsky JA, Bordon JM. In vitro antimicrobial resistance of urinary Escherichia coli isolates among U.S. outpatients from 2000 to 2010. Antimicrob Agents Chemother. 2012 Apr;56(4):2181-3. Disponível em:

5. Naber KG, Schito G, Botto H, Palou J, Mazzei T. Surveillance study in Europe and Brazil on clinical aspects and Antimicrobial Resistance Epidemiology in Females with Cystitis (ARESC): implications for empiric therapy. Eur Urol. 2008;54(5):1164. Disponível em:

6. Barros E et al. Infecção do trato urinário. Duncan BB et al., orgs. Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013.

ASSUNTO(S)

cuidados primários de saúde médico u71 cistite/outra infecção urinária brasil cistite escherichia coli farmacorresistência bacteriana fluoroquinolonas

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