Qual a conduta do cirurgião-dentista da Atenção Básica frente a um caso de Angina de Ludwig?

AUTOR(ES)
FONTE

Núcleo de Telessaúde Santa Catarina

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/06/2023

RESUMO

Pacientes com diagnóstico de Angina de Ludwig devem ser encaminhado com urgência pelo Cirurgião-Dentista (CD) clínico geral para tratamento em nível hospitalar

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A Angina de Ludwig é uma celulite frequentemente originada de uma infecção odontogênica classicamente localizada no segundo e terceiro molares inferiores, que envolve os espaços submandibular, sublingual e submentoniano

. Descrita em 1836 por Wilhelm Friedrich von Ludwig, atualmente é discutida junto às infecções cervicais profundas, definidas como infecções supurativas que se disseminam e desenvolvem ao longo dos espaços e dos planos fasciais da cabeça e do pescoço

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Antes dosurgimento dos antibióticos, a doença apresentavataxas de mortalidade que ultrapassavam os 54%. Atualmente, devido à evolução dos antibióticos, e à melhoria nos hábitos de higiene bucal, sua incidência é reduzida, embora ainda seja considerado um quadro de alta morbidade e gravidade, principalmente entre pacientes com comprometimento sistêmico

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A sintomatologia típica inclui dor, aumento de volume em região cervical, disfagia, odinofagia, trismo, edema do assoalho bucal, protrusão lingual, febre, linfadenopatia e calafrios

. Sua evolução é rápida, podendo colocar em risco a vida do paciente, seja pela obstrução das vias aéreas, secundária ao edema sublingual e submandibular, ou numa fase mais tardia do processo, em que a disseminação da infecção pode levar à mediastinite, fasceíte necrosante ou sepse

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Indivíduos mais susceptíveis à Angina de Ludwig são os pacientes com comprometimento sistêmico, decorrente de doenças como AIDS, alcoolismo, glomerulonefrite, desnutrição, diabetes mellitus, uso de anti-inflamatórios hormonais ou imunossupressores, anemia aplástica, entre outras

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O tratamento é em nível hospitalar e concentra–se em torno de quatro atitudes: (1) manutenção das vias aéreas; (2) incisão e drenagem; (3) antibioticoterapia; (4) eliminação do foco infeccioso original

. A antibioticoterapia endovenosa pode ser a base de Penicilina G, podendo-se associar com Metronidazol

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Estudo da prevalência de abcessos cervicais profundos de origem dentária em um hospital português entre 2007-2010 identificou como etiologia dentária mais frequentemente encontrada o abcesso periapicalsem fístula (44,8%), sendo a exodontia o tratamento mais instituído (79%). As doenças sistêmicas mais associadas foram a hipertensão (12,4%) e a diabetes mellitus (10,5%). O tempo de internamento médio foi de 8,95 dias, sendo que 15,2% dos doentes necessitaram de cuidados intensivos

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No Brasil, estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo

avaliou 57 pacientes internados no período de janeiro de 1999 a janeiro de 2001 com o diagnóstico de infecção dos espaços cervicais profundos. Observou-se uma maior incidência em adultos com idade média de 30,4 anos dentro de uma variância de 2 meses a 65 anos. Houve envolvimento de ambos os sexos com discreto predomínio de homens (56,1%). O foco odontogênico foi o principal responsável pelas infecções (24 casos).

É importante ressaltar a relevância do cuidado integral em saúde, em que o cirurgião dentista da Atenção Básica e a equipe de saúde trabalhem de forma integrada para identificar e encaminhar para o tratamento odontológico pessoas com problemas de saúde bucal, principalmente as que possuem algum tipo de comprometimento sistêmico e/ou imunosupressão. A cárie e a doença periodontal ainda são morbidades muito prevalentes na população, e podem ser facilmente tratadas e prevenidas na atenção básica, evitando a evolução para agravos de maior complexidade, como o caso da Angina de Ludwig.

ASSUNTO(S)

processo de trabalho na aps dentista d20 sinais / sintomas da boca / língua / lábios d83 doenças da boca / língua / lábio angina de ludwig odontólogos d - opinião desprovida de avaliação crítica/baseada em consensos/estudos fisiológicos/modelos animais

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