Promoção da saúde em espaços sociais da vida cotidiana

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

A realização deste estudo partiu da premissa de que a vida cotidiana é permeada por normatizações e racionalidades que limitam a promoção da saúde como possibilidade dos sujeitos e de suas escolhas nos modos de viver. O objetivo do estudo foi analisar o modo de vida em espaços sociais da vida cotidiana, apreendendo os sentidos e significados das práticas de promoção da saúde. Adotou-se, como arcabouço teórico metodológico, o referencial da Sociologia da vida cotidiana. O estudo foi realizado no território de abrangência do Centro de Saúde São José, no Distrito Sanitário Noroeste do município de Belo Horizonte. Elegeram-se sete espaços para análise das práticas cotidianas de promoção da saúde: escola, serviço de saúde, associação de moradores, grupo de convivência da Terceira Idade, grupo de ginástica, clube recreativo e pista de caminhada. Nesses espaços, os discursos e práticas desenvolvidos foram reveladores dos sentidos e significados da promoção da saúde em vetores que se articulam nos planos macrossociais do modo de vida e microssocial do cotidiano e colocam a promoção da saúde como uma razão política. Os resultados indicam que o modo de vida no cenário do estudo é marcado por privações. Neste contexto, a dependência em relação às políticas públicas e às redes sociais conferem sentido ao cotidiano. Nos discursos dos participantes, saúde e qualidade de vida são vistas de forma focalizada com centralidade na capacidade de viver (ou sobreviver) não atingindo seu sentido mais ampliado de relação com os macrodeterminantes estruturais. As práticas de promoção da saúde, nos diferentes espaços sociais, revelam mecanismos de controle social e manejo da população vulnerável. Prevalecem práticas focalistas, de caráter pontual sobre o adoecer, os riscos ou os desvios da normalidade e que pouco contribuem para romper com a medicalização social. Assim, há a retro-alimentação do paradigma biomédico agora materializado em diferentes práticas e em diferentes espaços (para além dos tradicionais serviços de saúde) que aliado ao fato de se ocuparem com sentidos e significados gerados pelas pessoas quanto a saúde configuram uma nova racionalidade. A análise das práticas permitiu evidenciar as lógicas de organização de discursos normativos de promoção da saúde que reproduzem padrões, regras e regulamentos nos espaços do cotidiano. Aí, as forças de circulação de poder, com centro de evocação do saber-poder no Estado e nos movimentos organizados da sociedade civil, dão, às práticas, seu caráter de dispositivos de manutenção da medicalização social ao se configurarem como mecanismos de regulação e controle social. Com isso, as possibilidades autonomizadoras das práticas identificadas no território mostram-se menos expressivas que seu potencial medicalizante e regulador. Conclui-se que a promoção da saúde nos espaços sociais da vida cotidiana apresenta o desafio de ampliar o potencial autonomista de ação dos indivíduos sem contudo desresponsabilizar o Estado e a sociedade civil organizada em prover condições estruturais que favoreçam a criação de novos hábitos. Há portanto que ampliar a relação sinérgica de cada individuo consigo mesmo, com os outros de seu contexto e com o Estado, num movimento que garanta a promoção da saúde como direito de cidadania. Assim, promover saúde implica em firmar pactos sociais e criar estratégias de promoção da cidadania; superar práticas pontuais e fragmentadas; implementar ações intersetoriais; desenvolver a co-responsabilização entre governo e comunidades, garantindo a sustentabilidade política, a efetividade e a resolutividade das propostas de desenvolvimento local.

ASSUNTO(S)

humanos decs poder (psicologia) decs controles informais da sociedade decs autonomia pessoal decs enfermagem teses enfermagem decs promoção da saúde decs dissertações acadêmicas como assunto decs

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