Práticas escolares : aprendizagem e normalização dos corpos

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Esta Dissertação, situada no campo dos Estudos Culturais em Educação e utilizando-se do referencial teórico foucaultiano, tem como foco de análise as práticas escolares dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental com o objetivo de desnaturalizar o que parece tão corriqueiro e essencial no cotidiano de tais práticas. Com inspiração etnográfica, efetuou-se em uma escola da rede municipal de Porto Alegre, organizada a partir da proposta curricular por Ciclos de Formação, e procura problematizar o funcionamento de algumas práticas e seus efeitos no que diz respeito à normalização dos corpos posicionados como não-aprendentes, ao mesmo tempo em que analisa como essas práticas também agem sobre os demais sujeitos (professores/as e familiares) que delas participam. Ao colocar em evidência a operacionalização de tais práticas em seu cotidiano, investe na reflexão da lógica normativa e normalizadora que as constitui, enquanto instâncias produtivas e produzidas, trazendo para a discussão as relações de poder que se efetuam em seu interior e que se caracterizam por seus movimentos de resistências dos diferentes sujeitos e pela produção de múltiplos saberes que conformam o espaço escolar em um complexo normalizador e conformador de corpos escolares. O Documento Referência da Escola Cidadã é analisado e entendido como instrumento normativo que organiza, distribui e classifica tempos, espaços e corpos escolares. Ao instituir modos de ser e fazer, tal proposta curricular proporciona a efetivação de práticas destinadas à específica normalização dos corpos “desviantes” dos padrões estabelecidos. A partir do olhar sobre esta proposta curricular, e considerando a especificidade do contexto escolar pesquisado, o dossiê constitui-se como a prática escolar que compõe a escrita de todos os capítulos, articulando-se com as práticas da sala de aula e suas distribuições e reorganizações de grupos e estratégias normalizadoras que, através de cenas, estarão evidenciadas e problematizadas; do conselho de classe e suas formas de avaliação e classificação que promovem o destino escolar dos/as alunos/as; dos espaços especializados – Laboratório de Aprendizagem e Sala de Integração e Recursos – que evidenciam a prática do olhar clínico que categoriza e posiciona as respostas dadas pelos/as alunos/as como graus de normalidades e anormalidades passíveis de serem “tratados” por saberes e práticas especializadas. Compondo forças para a máxima normalização dos corpos desviantes, a família e os/as professores/as, também sujeitos aos saberes e às práticas, tornam-se normalizados e esquadrinhados, contribuindo, assim, para o funcionamento disciplinar do cotidiano escolar. Tais análises, entretanto, não intencionam promover definições e conclusões sobre as práticas escolares vivenciadas e a proposta curricular na qual estão inseridas, nem mesmo define se seus efeitos são positivos ou negativos para a aprendizagem escolar e o desenvolvimento infantil. Dessa forma, não se encontra, nessa pesquisa, propostas e soluções para as ditas “dificuldades de aprendizagem”, o olhar analítico direciona-se para a problematização das práticas escolares e de como tais práticas são produzidas pelos saberes da Pedagogia e das áreas que a compõem, ao mesmo tempo em que os modos de sua operacionalização produzem outros tantos modos de ser sujeito.

ASSUNTO(S)

prática pedagógica porto alegre (rs) ensino fundamental ensino por ciclos identidade formação espaço físico escola relações de poder relação professor-aluno cotidiano escolar estudos culturais

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