Platão e Iris Murdoch: o Bem, o Amor e a retomada da ética das virtudes antiga na filosofia moral britânica

AUTOR(ES)
FONTE

Rev. Archai

DATA DE PUBLICAÇÃO

02/05/2019

RESUMO

Resumo: Desde a publicação, em 1958, do famoso artigo A Filosofia Moral Moderna de G. E. M. Anscombe estabeleceu-se uma espécie de consenso em torno da necessidade de as teorias ético-filosóficas contemporâneas ampliarem sua agenda de análise para além das noções de dever e obrigação. Esse movimento conduziu à redescoberta de concepções morais antigas ligadas à constituição de um caráter virtuoso e da conquista da felicidade ou bem-viver, especialmente a ética de Aristóteles e dos filósofos estoicos. Nesse artigo eu mostro que a filósofa e escritora britânica Iris Murdoch participou desse movimento de redescoberta da ética das virtudes antiga, localizando na filosofia de Platão, e não na filosofia de Aristóteles ou dos estoicos, um instrumento de crítica às teorias morais de seu tempo, uma crítica caracterizada pela substituição da noção tipicamente moderna da vontade racional do agente por noções profundamente vinculadas à filosofia platônica, como o “amor” e “atração” pelo Bem, entendidos como constituintes de um modelo de orientação moral objetiva. Diferente de Platão, no entanto, o Bem e seu poder de engajamento e atração, é explorado como uma fonte ético-metafísica com um significado psicológico muito particular. Ele é caracterizado, em termos da psicologia moral de base psicanalítica por ela adotada, como um olhar amoroso do outro e como um desejo de ver a realidade, entendido como um desejo pessoal de sermos justos e bons, o que dá um sabor psicológico-naturalista à sua reinvindicação da filosofia platônica.Abstract: Since G. E. M. Anscombe’s famous article Moral Modern Philosophy was published in 1958, a consensus has been established around the moral philosophy’s need for expanding its analysis agenda beyond the notion of duty and obligation. This movement has resulted in the recovery of ancient moral conceptions focused on the constitution of a virtuous character and happiness, especially under the influence of Aristotle and Stoic philosophers. In this paper, I intend to show that the British novelist and philosopher Iris Murdoch engaged in this movement assuming some central notions of Plato’s moral philosophy as part of her criticism against the British moral philosophy of her age. Such criticism contends the replacement of the modern notion of a rational will by other platonic ideas, especially “love” and “Good”, understood as parts of an objective model of moral guidance. Unlike Plato, however, the Good and its power of engagement and attraction were not characterized in a metaphysical way but as a peculiar psychological and moral notion. Following Freud’s psychoanalysis, the Good is conceived as part of XX lovely attention to the other and as a desire to see the reality behind our egoism and the pitfalls of imagination, which gives a psychological-naturalistic flavor to Murdoch’s claim from Plato’s philosophy.

Documentos Relacionados