Percepções sociais do aborto provocado: uma explicação em termos de crenças sociais e familiaridade

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Por configurar-se numa questão de saúde pública, o aborto provocado tem sido pauta do debate social. No entanto, a discussão se faz atravessada dos discursos que avaliam esse comportamento como um ato tanto moralmente inaceitável, como também passível de punição dentro da legislação brasileira. Partindo dessa reflexão, o presente trabalho analisou a percepção social do aborto provocado e sua relação com uma série de fatores psicossociais que fundamentariam essa percepção. A percepção é entendida dentro de três dimensões avaliativas: comunidade (o quanto a prática do aborto provocado é comum), justiça (o quanto a prática do aborto provocado é justa) e punição (o quanto a prática do aborto provocado deve ser punida). Foram apresentadas historias de abortamento dentro das condições permitidas em lei (normatizadas) e das condições não permitidas (não-normatizadas) e os participantes solicitados a avaliá-las como comportamento comum, justo e passível de punição. Os fatores psicossociais considerados foram crenças sociais que fundamentam o posicionamento social frente ao aborto provocado, crenças essencialistas nas diferenças entre homens e mulheres, religiosidade e familiaridade com o aborto provocado. Para tanto, realizou-se um estudo correlacional com a aplicação de questionário a 614 estudantes universitários de ambos os sexos de uma universidade pública da Paraíba. Os resultados encontrados indicaram que, para a amostra estudada, o aborto provocado é percebido como um comportamento comum, tanto nas situações normatizadas (permitidas em lei) e não-normatizadas (aborto ilegal). O aborto normatizado foi percebido como mais justo e menos passível de punição, enquanto que os participantes perceberam o aborto não-normatizado como menos justo e mais passível de punição. Quanto ao posicionamento houve uma adesão aos argumentos contrários á prática do aborto, com exceção dos argumentos que vinculam-se a autonomia e liberdade individual da mulher para decidir sobre o próprio corpo. A amostra admitiu uma baixa familiaridade com o fenômeno do abortamento. Na percepção da comunidade do aborto (normatizado e não-normatizado), as variáveis explicativas foram o posicionamento e a familiaridade. Já para a percepção da justiça (normatizado e não-normatizado) e a percepção da punição normatizada, as variáveis explicativas foram o posicionamento e a religiosidade. E para a percepção da punição não-normatizada, apenas o posicionamento apareceu como variável explicativa. Observou-se que o essencialismo não aparece como variável explicativa de nenhuma das percepções. Os resultados encontrados apontam para o fato de que quanto mais familiaridade com o fenômeno do abortamento maior é atribuição de comunidade, ou seja, há o reconhecimento da elevada ocorrência de abortos por aqueles que admitem algum tipo de proximidade com a questão. Faz sentido então reforçar o papel institucional como promotor da visibilidade do abortamento, para além da perspectiva da moralidade, mas sim da problemática social que o envolve, enquanto comportamento cotidianamente praticado à revelia dos julgamentos morais a ele feito.

ASSUNTO(S)

perception of induced abortion crenças essencialistas familiarity with abortion familiaridade com o aborto provocado crenças sociais social beliefs psicologia social percepção do aborto provocado essentialist beliefs

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