Percepção das desigualdades socioeconômicas : estudo sobre jovens universitários em Porto Alegre, RS

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

A percepção generalizada sobre a intensidade da desigualdade socioeconômica é uma questão que poderia ser considerada óbvia no caso brasileiro. A denúncia desse fenômeno por grupos populares desde muito antes da independência política; a realização de estudos desde a década de 1930; e as inúmeras reportagens e relatórios recentes que situam o Brasil no grupo dos países mais desiguais do mundo, poderiam tornar sua percepção uma obviedade. Esse trabalho problematizou junto a um grupo de jovens universitários se a desigualdade, enquanto problema social era percebida de forma homogênea por grupos com distintas trajetórias e origens sociais. Para se chegar até essa problematização, percorreu-se um caminho teórico que passou pela reconstrução dos argumentos centrais: da Sociologia do Conhecimento mannheimiana; de recentes contribuições da sociologia brasileira sobre as desigualdades locais; e de estudos sobre socialização. A realização da pesquisa com jovens exigiu um estudo específico sobre particularidades que constituem essa fase da vida. As teorias de estratificação revisitadas possibilitaram definir o pólo beneficiado pela situação social como classes sociais ricas. As percepções sobre desigualdade socioeconômica foram abordadas a partir de assuntos públicos que estiveram em debate ao longo da última década. Ao todo foram aplicados 162 junto a estudantes de oito cursos superiores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dos quais 158 foram aproveitados na análise. A amostra foi estratificada de quatro formas diferentes: pelo Índice de Estratificação criado exclusivamente para a pesquisa; pela origem social, captada pela posição profissional do pai; pela trajetória escolar, definida pelo tipo de escola freqüentada; e pela renda familiar declarada. A seguir, captou-se a correlação entre as estratificações realizadas e as percepções sobre a desigualdade sócio-econômica. Dessa forma, foi possível relacionar e hierarquizar os fatores socializadores específicos com as percepções sociais. Para a análise diferenciaram-se as respostas em três categorias: nível de reconhecimento da desigualdade como um problema social estruturante das relações sociais no país; posicionamento aproximado às reivindicações igualitaristas, caracterizado como progressista; e posicionamento aproximado às reivindicações não-igualitaristas, caracterizado como conservador. Através do método da estratificação cruzada revelou-se que os indicadores que explicam o maior reconhecimento da desigualdade como problema são a trajetória escolar em escolas públicas, o pertencimento ao GSE C e a posição profissional do pai como funcionário. A segunda categoria apontou para um posicionamento progressista em relação ao equacionamento da desigualdade sócio-econômica. O exercício apontou para uma correlação mais forte entre o posicionamento progressista e as variáveis: trajetória escolar em estabelecimentos públicos, posição profissional do pai entre filhos de autônomos e funcionários. A terceira categoria indicou o posicionamento conservador em relação ao equacionamento da desigualdade. O procedimento adotado revelou uma correlação mais forte entre posicionamento mais conservador e as variáveis: renda familiar elevada; posição profissional do pai entre filhos de “executivos” e de autônomos. A apresentação dos dados e a análise a partir das categorias construídas indicam que há um padrão em torno de algumas variáveis do processo socializador que condicionam o modo de perceber a realidade social e sua dinâmica. Existe, tendencialmente, uma polarização entre um posicionamento mais conservador em relação ao enfrentamento da desigualdade socioeconômica naqueles egressos de escolas privadas, filhos de “executivos” e oriundos de famílias ricas, por um lado; e mais progressista entre os egressos de escolas públicas, filhos de funcionários e membros do grupo médio-baixo, por outro.

ASSUNTO(S)

desigualdades socioeconômicas grupos sociais estudantes universitarios sociologia do conhecimento estratificação social dissertação

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