Padrão alternante cíclico nas epilepsias do lobo temporal

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Introdução: O Padrão Alternante Cíclico (“CAP”, do inglês - Cyclic Alternating Pattern) é um ritmo fisiológico do sono NREM, que corresponde aos períodos de ativação cíclica expressos por eventos fásicos do sono. O aumento na expressão de taxa do CAP tem sido considerado uma medida de instabilidade e fragmentação do sono. O CAP representa uma condição favorável para a ocorrência de descargas interictais e/ou ictais. A modulação do CAP em pacientes com Epilepsia do Lobo Temporal (ELT) não está bem definida. Objetivos: Analisar a expressão do CAP em pacientes com ELT e comparar com o grupo de controle. Selecionar o grupo de pacientes sem distúrbios do sono que possam influenciar a organização do sono. Métodos: Foi realizado estudo transversal com grupo de controle de comparação. A seleção foi pareada em sexo e idade entre pacientes com ELT e o grupo de controle, obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão. Os parâmetros do sono e CAP foram analisados em 13 pacientes com ELT (6 do sexo masculino e 7 do sexo feminino; idade média: 33,8 ± 8,5 anos) e 13 indivíduos sadios (8 do sexo masculino e 5 do sexo feminino; idade média: 26,1 ± 9,2 anos), os quais não apresentaram distúrbios do sono. A comparação dos dois grupos foi realizada através do “teste t” de Student e confirmada pelo “teste U” de Mann-Whitney. Resultados: Os pacientes com ELT apresentaram aumento na taxa de CAP (44,02 ± 5,23 % versus 31,83 ± 3 %; p<0,001) e maior duração do tempo de CAP (133,77 ± 15,56 min. versus 99,38 ± 9,6 min.; p<0,001) em relação aos indivíduos sadios. Não houve diferença na média da duração da fase A (9,27 ± 1,15 seg. versus 8,7 ± 0,61 seg.; p<0,131), e a média da duração da fase B não atingiu diferença significativa (22,92 ± 1,71 seg. versus 21,54 ± 1,78 seg.; p<0,054) entre os dois grupos. A comparação dos parâmetros de sono e de CAP dentro de cada grupo, mostrou não haver diferença entre os gêneros. A análise estatística dos parâmetros do sono em pacientes com ELT evidenciou uma diferença significativa das seguintes variáveis: menor latência ao sono (5,8 ± 2,4 min. versus 14,2 ± 7,6 min.; p=0,002); aumento do número da troca de estágios com média de 91,1 ± 25,7 versus 68,2 ± 12,8; p=0,008; menor duração de estágio IV (30,8 ± 14,8 min. versus 51,4 ± 12,5 min.; p=0,001); maior percentual do estágio III (7,7 ± 2,8% versus 5,7 ± 1,7%; p=0,035); menor percentual do estágio IV (7,9 ± 4% versus 12,9 ± 3,3%; p=0,002) em pacientes com ELT, comparando com o grupo de controle. A análise dos despertares breves demonstrou em pacientes com ELT: maior número de despertares breves em sono (66,5 ± 20 versus 41,8 ± 9; p=0,001); maior número de despertares breves em sono NREM (52,9 ± 19,6 versus 31 ± 9,5; p=0,002); maior duração total de despertares breves em sono (549,1 ± 170,3 seg. versus 357,2 ± 88,5 seg.; p=0,002); maior duração total de despertares breves em sono NREM (436,8 ± 165,7 seg. versus 271,9 ± 95,2 seg.; p=0,006); aumento do índice de despertar breve em sono (10,2 ± 2,9 versus 6,3 ± 1,7; p=0,001); aumento do índice de despertar breve em sono NREM (10,3 ± 3,4 versus 6 ± 2; p=0,001). Não houve diferença significativa de número (13,6 ± 5,6 versus 10,8 ± 3,7; p=0,149), duração total (112,3 ± 48,3 seg. versus 85,3 ± 25,2 seg.; p=0,091) e índice de despertar breve (9,7 ± 3,8 versus 7,4 ± 2,4; p=0,075) em sono REM entre os dois grupos. Todos os pacientes comELT tiveram uma eficiência do sono normal e similar ao grupo de controle (90,4 ± 2,9 % versus 90,6 ± 2,9 %). Conclusões: Os pacientes com ELT apresentam aumento da taxa de CAP e da duração de tempo de CAP em relação ao grupo controle, demonstrando um aumento na instabilidade e fragmentação do sono. O aumento na expressão da taxa de CAP, alterações nos parâmetros de fragmentação e descontinuidade do sono, expressos pelo aumento de número, duração e índice de despertares breves em sono NREM e o número de mudanças de estágios, associados à eficiência normal do sono em nosso grupo de pacientes com ELT, podem sugerir que o CAP tem um papel na modulação do sono. A fragmentação e a instabilidade do sono em pacientes com ELT, provavelmente, ocorrem devido à própria epilepsia e podem refletir a interação do foco epiléptico com os sistemas responsáveis pela manutenção e estabilidade de sono.

ASSUNTO(S)

epilepsia do lobo temporal epilepsy distúrbios do sono temporal lobe epilepsy sleep cyclic alternating pattern

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