Os efeitos discursivos do diagnóstico na clínica psicanalítica e na clínica do comportamento / The discursive effects of the diagnosis in the psychoanalytic and clinical behavior

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta pesquisa clínica se constitui a partir de interrogações resultantes do trabalho clínico realizado na esfera de atenção e cuidados psicossociais norteada pelos princípios daReforma Psiquiátrica Brasileira. É notável o recrudescimento das abordagens biológico-organocomportamentais dos fenômenos psíquicos na contemporaneidade. Verificamos que a construção do diagnóstico clínico e a direção do tratamento expressam, no contexto atual, o acirramento destas abordagens, impondo modos de concepção da loucura, e dos fenômenos psíquicos em geral, circunscritos às suas manifestações fenomênicas e comportamentais. Constatamos que o diagnóstico é efeito e raiz, a um só tempo, de distintas posições dircursivo-metodológicas circunscritas, nesta pesquisa, à posição do analista, na clínica psicanalítica,eà posição do comportamentalista, no que estamos chamando de clínica do comportamento (configurada por teorias e práticas do campo da medicina e da psicologia comportamentalistas). Vale destacar que este cenário de interpretação compreensiva biológico-comportamental pode trazer para o sujeito, na sua relação com o laço social, conseqüências desastrosas desde a inclusão em tratamentos desnecessários até a uma postura segregativa e adaptativa. O eixo do saber que o diagnóstico instaura atravessa todo este trabalho. Portanto, nosso objeto de pesquisa se inscreve na relação do sujeito com o saber na Psicanálise e na ciência contemporânea do comportamento, na qual circunscrevemos como paradigma o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4 th ed.). Partimos da formação do sintoma em Freud como condição do saber do sujeito. Destacamos, em Lacan, o saber do real do sintoma no campo clínico psicanalítico frente ao saber nominalista do DSM e sua perspectiva empírico-pragmática. Ressaltamos o sujeito da ciência enquanto corolário da ciência moderna fundada num contexto de revolução de todo o saber. Lacan nos diz que este sujeito da ciência é o mesmo sujeito do inconsciente. No entanto, este sujeito, dimensão do real e do contingente, é forcluído pela ciência que estabelece a relação do sujeito com o saber pelo mecanismo da sutura.A psicanálise, entretanto, opera sobre o retorno do contingente, afirmando o sujeito em sua relação com o saber infinito do inconsciente. A dimensão do gozo e do desejo, nomes do saber, são articulados, portanto, como o real forcluído do saber da ciência. A construção de um caso clínico nos indica o trilhamento que inscreve a debilidade na impossibilidade radical de acesso ao saber. Verificamos haver correlação entre a operação da sutura exercida pela ciência do DSM e a colagem entre o sujeito e o saber construída pela debilidade. Donde hipotetizamos a equiparação entre a debilidade do sujeito e uma certa operação de debilização produzida pelo DSM. De uma posição de assujeitamento ao saber do Outro, pode-se notar como a transferência e seu dispositivo de acesso (o sujeito suposto saber) inscrevem-se como vias constituintes da materialidade significante do espaço pelo qual o sujeito débil pôde operar descolamentos do saber do Outro.

ASSUNTO(S)

psicanálise tratamento e prevencao psicologica psychoanalysis human behavior diagnosis comportamento humano diagnóstico subjetividade

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