O sujeito e suas confissões em O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst, livro do qual retiramos o material eleito para constituir o corpus de nossa pesquisa de mestrado, traz a história de uma garota de oito anos que relata, em um diário, O caderno rosa, suas possíveis experiências sexuais com homens mais velhos. Ao laçarmos nosso olhar para a obra em foco, percebemos que se trata de uma escrita confessional. De acordo com Foucault (1998), no século XVII, a confissão foi imposta, pela Igreja Católica, como um meio de controle tornando-se, assim, uma maneira de a instituição saber o que se passava com as pessoas, inclusive no que diz respeito aos prazeres. A partir desse momento, o sexo começou a ser discursivizado. Nesse sentido, poderemos verificar a construção da sexualidade como objeto histórico e como produção de saber, analisando os procedimentos de controle e resistência na obra, pensando sobre a maneira como a memória pode ser recuperada, por meio de imagens evocadas a partir da justaposição de discursos. Buscaremos suporte nas reflexões de Courtine (1999), que rearticula, na direção apontada por Michel Foucault, os cruzamentos linguísticos com a história. Para nossa análise, partiremos da identificação dos enunciados nos extratos a serem analisados, usando os postulados de Foucault sobre enunciado. Para que se considere um conjunto de signos como enunciado, é preciso que a posição do sujeito-enunciador seja assinalada. Dessa forma, uma palavra ou frase pode ser usada da mesma maneira em momentos diferentes, podendo ser determinada como diferentes enunciados. Assim, ao deparar-se com um enunciado, o qual aponta para uma posição do sujeito sóciohistoricamente marcada, não se trabalha com a relação entre autor e obra, mas, de acordo com Foucault, procura-se determinar a posição que pode e deve ocupar cada indivíduo para ser sujeito. Posto isso, refletiremos sobre a memória a partir do que tais enunciados trazem à tona. Para tanto, basear-nos-emos no conceito de memória discursiva, proposto por Courtine (1999), como o que se estabelece devido a uma existência histórica do enunciado no interior de práticas discursivas e possibilita-nos alcançar uma maior interpretação do enunciado a ser lido. Objetivamos, também, à problematização dO Caderno Rosa e sua forma de confissão como escrita de si, investigando, assim, a maneira pela qual o sujeito de nossa pesquisa torna-se sujeito de seu próprio desejo e como essa relação se construiu de forma exterior para o interior e, depois, de uma forma interior para seu próprio interior, em um movimento de si para si. Ao olhar para a sua própria sexualidade, como nos coloca Foucault (1995), confessando-a, o indivíduo está em um momento de sujeição à sua própria sexualidade, constituindo-se como sujeito. Sob esse prisma, observar a si, de acordo com o referido autor, faz com que o indivíduo descubra, a partir de seu desejo, a verdade de si numa relação de si para consigo, fazendo-se sujeito de sua própria moral.

ASSUNTO(S)

hilst, hilda, 1930-2004 - crítica e interpretação confession linguistica confissão sujeito subject sexualidade escrita de si memória self writing análise do discurso memory sexuality

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