O riso e o social: O poder transformador da comédia na trilogia de Wolney Leite e Gercino Souza

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Este trabalho analisa a trilogia cômica de Wolney Leite e Gercino Souza, constituída das peças A História de João Rico, A História do Amarelinho e o Valente Secundino e A História de São Gregório e o Fazedor de Santos, discutindo, a partir da compreensão da imbricação entre forma literária e forma social, o lugar do riso na dramaturgia. A análise demonstra, através do percurso dos protagonistas, apresentados em cada uma das peças com peculiaridades condizentes com o conteúdo discutido, que a autoria, utilizando-se de um carpintaria teatral bem estruturada, tece as possibilidades do oprimido numa sociedade periférica, na qual as formas de lidar com o poder acabam sendo sempre individualizadas, não possibilitando a resolução das contradições sociais, apresentando apenas maneiras para que um indivíduo se insira no jogo do logro e da corrupção, compartilhando das benesses dos dominadores. No caminhar da análise mostramos as influências da Commedia dellArte na dramaturgia de Wolney Leite e Gercino Souza, ao mesmo tempo que salientamos a inserção destes autores na cena nordestina, do mesmo período histórico estudado. Paralelamente, dando suporte à análise, recorremos a Carlinda Fragale Pate Nuñez para discussão do conceito de catástase e comprovação da eficácia do gênero como dicção subversiva e demolidora na crítica aos costumes, bem como ao enfoque da hýbris para compreensão da desmedida na sociedade de classes; a Bergson, Vladímir Propp e Verena Alberti, para discutir a virulência do riso enquanto manifestação intrínseca ao humano; a Bakhtin, quando observa o poder da carnavalização na representação literária; a Candido, Roncari e Roberto da Matta, para explicar os diversos tipos de malandragem necessária à sobrevivência do dominado em sociedades capitalistas periféricas e, finalmente, a Ian Watt e Marshall Berman, quando discutem a solidão do ser humano no mundo moderno. Nossa análise nos permitiu concluir que a forma social do capitalismo periférico, em uma sociabilidade que convive com formas pré-capitalistas de opressão, foi representada pelos autores numa forma literária cômica que, ao se utilizar do riso, permite ao público se reconhecer como parte da história e realizar a exorcização do dominante através da crítica às formas de atuação dos dominados.

ASSUNTO(S)

risco social avareza capital classe malandragem literatura brasileira

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