O processo de alcoolização entre os Pankararu : um estudo em etnoepidemiologia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2002

RESUMO

Esta pesquisa interdisciplinar envolve a Epidemiologia e a Antropologia, consubstanciando uma proposta etnoepidemiológica. Seu objeto é um processo de significação social contraditória, a alcoolização dos Pankararu, uma comunidade indígena do Estado de Pernambuco. É um povo camponês e indígena, identificado com o processo de transfiguração ou de recuperação étnica, segundo a Antropologia, e estando sob a política protecionista do Estado Nacional, desde a criação de área indígena para uso vitalício. estudo exploratório conjuga categorias epidemiológicas, como Espaço, Tempo e Sujeito, abordadas através dos fundamentos metodológicos e conceituais da Antropologia, e tendo como principal referência teórica Alfred Schutz (1899-1959). Houve um trabalho de campo na área localizada no Sertão do Submédio São Francisco, distante 412 quilômetros do Recife, Pernambuco. Algumas abordagens teóricas e empíricas puderam ser desenvolvidas: A) Em relação ao Espaço foi destacado o conceito de Cenário Etnoepidemiológico (político, econômico e religioso) enquanto componente do Mundo da Vida e por onde ocorreram heterogêneas dramatizações sociais. Na cena política, a alcoolização é um ato ilícito, pois contraria a Lei 6.001 de 19/12/1973 (o Estatuto do Índio); sendo assim, toma-se, paradoxalmente, por um lado, um movimento de oposição à tutela institucional e, de outro, uma acomodação diante de uma conjuntura de adversidade. No cenário econômico, caracteriza-se como estratégia transgressora de sobrevivência e, também, como estimuladora da violência social na área. Na cena religiosa, o processo é incorporado às práticas rituais, sendo predominantemente um instrumento fortalecedor dos grupos. B) Em relação ao Tempo, há o resgate da Memória Narrativa que historia um processo de ruptura com o Tempo da Tradição, através da emergência do Tempo da Modernidade Tardia (chegando com atraso secular). Surgem projetos individualistas, que não incorporam o éthos camponês e uma visão sagrada do Mundo. Diante da ausência de respostas concretas e objetivas, existe um "vácuo" existencial que é preenchido através de bebidas alcoólicas. C) Em relação aos Sujeitos, é empregado o conceito de Ego, tributário da Fenomenologia Social, enquanto conjugação do determinismo social e do livre-arbítrio. São interpretadas narrativas através da perspectiva de gênero (masculino e feminino) e da fase de existência (jovem, adulto e idoso). Através delas são apontadas relações diferenciadas entre as histórias de vida e a alcoolização. Os jovens, que começam a beber cada vez mais cedo, estão divididos entre projetos de migração ou de insubordinação ao poder tradicional, e as jovens geralmente não bebem, valorizam papéis tradicionais como donas-de-casa e professoras. Os adultos, por sua vez, vivenciaram o processo de migração de forma distinta, havendo uma relação entre experiências malsucedidas e maior consumo de alcoólicos. As adultas bebem menos e são críticas em relação ao processo. Por fim, os idosos, que vivem o Tempo da Tradição, assumem um rigoroso controle sobre o consumo de etílicos, estando prevenidos de algumas idiossincrasias

ASSUNTO(S)

indios alcoolismo

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