O percurso de uma entrevista no jornal: alguns procedimentos lingüístico-discursivos na passagem do oral para o escrito e suas conseqüências para a interpretação da enunciação

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

A passagem da modalidade oral para a escrita, procedimento freqüente na comunicação humana e, em especial para esta pesquisa, na imprensa escrita, produz alterações no discurso. O presente trabalho procura reconhecer algumas estratégias lingüísticodiscursivas utilizadas pelos jornalistas na transmissão da notícia, analisando o percurso de uma entrevista, do seu pronunciamento oral até sua publicação no jornal, para verificar em que medida tais estratégias podem servir de instrumento de manipulação de idéias, além de buscar diferenças no trato da notícia nos dois jornais analisados, levando-se em conta o comprometimento de um deles com a fonte de informação. Para isso, verificam-se algumas operações na passagem do oral para o escrito, seguindo-se, em parte, o modelo das operações textuais-discursivas proposto por Marcuschi (2003). Enfoca-se, também, o estudo do discurso no que concerne ao seu aspecto fundamental, a subjetividade, com as principais noções decorrentes dela e pertinentes ao trabalho: teoria da enunciação, polifonia e discurso relatado, seguindo-se os pressupostos teóricos de Benveniste (1989), Bakhtin (1981), Maingueneau (2004) e Authier-Revuz (2001), os quais permitem a análise do uso das aspas em duas formas de citação do discurso alheio, o discurso direto e a ilha textual em discurso indireto. Incluise, ainda, uma análise da seleção dos verbos de elocução, acompanhando-se estudiosos como Marcuschi (1991) e Urbano (2003), os quais são unânimes em afirmar que tais verbos podem agir sobre a interpretação do discurso que eles introduzem. O corpus escrito objeto da pesquisa é composto por duas entrevistas exclusivas concedidas pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, em junho de 2005, ao jornal Folha de S.Paulo, além de uma coletânea da repercussão dessas entrevistas no mesmo jornal e em O Estado de S.Paulo. O corpus oral corresponde a trechos das duas entrevistas exclusivas (16 minutos e 9 segundos de gravação). Os resultados obtidos confirmam que a passagem da modalidade oral para a escrita produz alterações significativas no sentido dos enunciados e que as enunciações são atos únicos, que não são reproduzidos, mas reconstruídos, dando origens a novas enunciações. Quando se trata de entrevistas orais que são, posteriormente, publicadas no jornal, as estratégias de que tratamos acabam por interferir, principalmente, na força ilocutória pretendida pelo entrevistado, a qual o jornal redireciona para atender aos seus objetivos, configurando-se, por essa razão, em eficazes recursos de manipulação da notícia. Quanto a diferenças no trato da notícia pelos jornais analisados, comprovamos que o comprometimento com a fonte de informação interfere no sentido dos enunciados

ASSUNTO(S)

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