O MBTI na Educação Médica: uma Estratégia Potente para Aprimorar o Trabalho em Equipe

AUTOR(ES)
FONTE

Rev. bras. educ. med.

DATA DE PUBLICAÇÃO

14/10/2019

RESUMO

RESUMO A assistência à saúde torna-se cada vez mais complexa, e as novas demandas exigem que as pessoas readaptem seus processos de trabalho para a construção de uma equipe multiprofissional que assegure integralidade, qualidade e efetividade do cuidado aos usuários do sistema de saúde. A Association of American Medical Colleges recomendou que os currículos médicos buscassem estratégias para o desenvolvimento de colaboração, responsabilidade compartilhada e equipes de alto desempenho, caracterizadas pelas habilidades de liderança, tomada de decisões, comunicação, resolução de conflitos, autoconhecimento, cooperação, corresponsabilidade e compromisso. Em consonância com essa orientação, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os Cursos de Graduação em Medicina afirmam que o estudante deve ser capaz de assumir liderança nas relações interpessoais, com comprometimento, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e desempenho de ações efetivas, mediada pela interação, participação e diálogo, objetivando o bem-estar da comunidade. Uma estratégia para a produção de equipes e o desenvolvimento de competências do trabalho em equipe é o Myers-Briggs Type Indicator (MBTI), amplamente utilizado nos setores de recursos humanos, de gerenciamento e administração na construção de equipes, com o propósito de autoconhecimento e autodesenvolvimento, desenvolvimento organizacional, treinamento gerencial e desenvolvimento curricular acadêmico e profissional. Assim, o MBTI foi incorporado ao planejamento e à execução de um componente curricular de Saúde Coletiva, no sétimo semestre de um curso de Medicina de uma universidade federal brasileira, como estratégia para a divisão das equipes de trabalho durante o período. Dessa forma, o objetivo deste artigo é relatar a experiência vivenciada e realizar análises quantitativa e qualitativa dessa experiência por meio de respostas discentes obtidas em questionários. Após a realização do MBTI pelos estudantes, para a formação das equipes foi aplicado o agrupamento por temperamento, que consiste em reunir os 16 tipos psicológicos em quatro temperamentos: SJ (guardiães), SP (artesãos), NF (idealistas) e NT (racionais). As equipes de trabalho foram formadas de modo que cada uma fosse composta por pelo menos um representante de cada temperamento. A análise quantitativa demonstrou que a intervenção foi estatisticamente significativa. A análise qualitativa das respostas às questões abertas foi obtida inicialmente pela categorização das informações, seguida pelo agrupamento em categorias amplas, por meio da análise de conteúdo. As categorias “formação de equipes satisfatória”, “oportunidade de autoconhecimento e conhecimento dos pares pelo MBTI” e “discordância da divisão segundo MBTI” elucidaram a percepção discente sobre as potencialidades e desafios do uso do MBTI na formação de equipes na educação médica. Com essa experiência, percebemos que somar habilidades individuais é possível e importante não apenas para a construção de produtos finais de qualidade, mas para que o processo de trabalho seja valorizado e permita autoconhecimento e o desenvolvimento de habilidades de relação interpessoal. Fica evidente a importância de que, enquanto estudantes e professores, profissionais de saúde e pessoas, nós nos permitamos ser afetados pelo potencial transformador do processo educacional para que, então, sejamos capazes de agir também como agentes promotores da mudança.ABSTRACT Health care has become increasingly complex and new needs demand that people readjust their work processes towards the construction of multi-professional teams that assure users comprehensive, effective, high quality care. The Association of American Medical Colleges has recommended that medical curricula seek strategies for collaborative development, shared responsibility, and high-performance teams characterized by leadership, decision-making, communication, conflict resolution, self-knowledge, cooperativity, co-responsibility, and commitment. Accordingly, the National Curriculum Guidelines for Medical Undergraduate Courses states that the student must be able to take leadership in interpersonal relationships with commitment, responsibility, empathy, ability to make decisions, communication and perform effective actions, mediated by interaction, participation and dialogue, aiming at the community’s well-being. One strategy to produce teams and develop teamwork skills is the Myers-Briggs Type Indicator (MBTI), widely used in the human resources, management and administration sectors in team building, with the purpose of self-knowledge and self-development, organizational development, managerial training, and academic and professional curriculum development. Thus, the MBTI was incorporated into the planning and execution of a Public Health discipline, in the seventh semester of a Medicine course of a Brazilian Federal University, as a strategy for the division of working teams during the academic period. The objective of the present article, therefore, is to report the experience and to perform a quantitative and qualitative analysis based on student answers obtained in questionnaires. Following application of the MBTI test, teams were formed according to the students’ temperament, with the sixteen psychological types divided into four large groups of temperaments: SJ (guardians), SP (craftsmen), NF (idealists), NT (rational). The teams were created so that they each had at least one representative of each temperament. The quantitative analysis shows that the intervention was statistically significant. Qualitative analysis of the answers to the open-ended questions was obtained initially by categorization of the information, followed by grouping into broad categories, through content analysis. The categories “satisfactory team formation”, “opportunity for self-knowledge and peer knowledge by the MBTI”, and “disagreement with the MBTI division” elucidated the students’ perceptions about the potentialities and challenges of using the MBTI for team division in medical training. The experience taught us that adding individual skills is possible and important, not only for the construction of quality end products, but for the work process to be valued, allowing self-knowledge and the development of interpersonal skills. It is evident that we, as students and teachers, health professionals and people, should allow ourselves to be affected by the transformative potential of the educational process in order to enable us to act as agents that promote change.

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