O extrativismo de samambaia-preta : uma alternativa de renda para agricultores familiares da encosta da Mata Atlântica no município de Maquiné (RS)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O Projeto Samambaia-preta (PSP) vem sendo desenvolvido desde o ano 2000, nas áreas de encosta da Floresta Ombrófila Densa, no município de Maquiné, Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Nesta região, estão localizadas as zonas núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (MAB/UNESCO), recebendo várias restrições quanto ao manejo das propriedades. O PSP visava avaliar a sustentabilidade do extrativismo da samambaia-preta, sob o ponto de vista ambiental, social e econômico. A comprovação científica da sustentabilidade ecológica dos sistemas de manejo tradicionalmente utilizados pelos agricultores embasou a construção de uma nova regulamentação, baseada no conhecimento dos agricultores. Apesar deste fato, está sendo registrada pelos agricultores e pesquisadores a diminuição da samambaia, como conseqüência da regeneração dos estádios sucessionais iniciais e médios (capoeira) da Mata Atlântica. Este processo é decorrente da coibição das práticas de manejo tradicionais pela legislação ambiental. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo: compreender a atividade extrativista da samambaia-preta na área de Encosta da Mata Atlântica, município de Maquiné, e a sua relação com as demais atividades desenvolvidas pelos diferentes tipos de agricultores, correlacionando com uma análise espacial e de produção das áreas de extrativismo. O enfoque metodológico baseia-se em “estudo de caso”, o qual permite ter uma percepção mais completa do objeto de estudo, a partir de um enfoque sistêmico. A partir de uma tipologia prévia dos sistemas de produção dos agricultores familiares extrativistas da samambaia em Maquiné, foram selecionados quatro estudos de caso representativos. As técnicas utilizadas na pesquisa foram: a) observação simples e participante; b) aplicação de entrevistas semi-estruturadas; c) pesquisa em documentação direta e indireta; d) análise espacial através de cartografia e georefenciamento. O extrativismo é praticado por famílias que têm como atividade principal o plantio agrícola e a produção pecuária, sendo a samambaia uma complementação da renda dos tipos II, III e IV, e atividade de renda principal para o tipo I. Do ponto de vista espacial, as distâncias percorridas pelos agricultores para realizar a coleta da samambaia estão aumentado paulatinamente devido à diminuição dos estoques perto das moradias. Além disso, as áreas estão diminuindo devido ao abandono das práticas culturais dos agricultores, que incluem a realização da agricultura de corte e queima e, durante as fases de pousio, a coleta da samambaia. Verificou-se a falta de acesso dos agricultores à informação referente: a) às potencialidades do mercado da samambaia-preta, b) à legislação atual que rege a atividade extrativista e os seus territórios. Além disso, verificaram-se ausência de organização comunitária, deficiência no gerenciamento da produção e comercialização, beneficiamento e meios de transporte para a circulação da samambaia-preta e os baixos preços pagos pela samambaia, os quais ficam restritos aos valores estabelecidos pelo atravessador. A realização deste estudo permitiu uma caracterização mais aprofundada de uma tipologia anteriormente proposta para a região, evidenciando que os agricultores familiares mais empobrecidos estão se desfazendo de suas terras para tentar outras condições de reprodução social, diferentes da agricultura, tendo na coleta regular da samambaia um emprego. Enquanto que agricultores familiares com maiores extensões de terra fazem de o extrativismo uma forma complementar de renda.

ASSUNTO(S)

maquiné (rs) extrativismo vegetal rio grande do sul bosque tropical atlántico mata atlântica agricultores agricultores familiares agricultura familiar desenvolvimento rural extracción helechos negros rio grande do sul atlantic forest familiar farmers harvest black-fern

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