O desenvolvimento cognitivo e a aquisição do conceito de morte em crianças de diferentes condições socio-experienciais

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1996

RESUMO

Este estudo tem por objetivos: investigar a relação entre o desenvolvimento cognitivo e a aquisição do conceito de morte em crianças de condições sócio-experienciais de carência sócio-econômica e de marginalidade~ e comparar a evolução do conceito de morte entre crianças de condições sócio-experienciais de carência sócio-econômica, de marginalidade e de nível sócio-econômico médio/alto com o mesmo nível cognitivo. A revisão da literatura inclui as bases teóricas e os achados empíricos em duas áreas: desenvolvimento do conceito de morte~ e desenvolvimento cognitivo e privação sócio econômica e cultural. Para a avaliação do conceito de morte utilizou-se o Instrumento de Sondagem do Conceito de Morte (TORRES, 1979) que investiga três dimensões - extensão, significado e duração - do conceito de morte biológica. Para a avaliação do nível de desenvolvimento cognitivo tarefas em moldes piagetianos foram empregadas. A amostra total constitui-se de 532 crianças distribuídas entre as três subamostras: 183 de nível sócio-econômico médio/alto, 146 em condição de carência sócio-econômica e 203 em condição de marginalidade. Para testar a relação entre desenvolvimento cognitivo e conceito de morte de crianças em condições de carência sócio-econômica e de marginalidade e para comparar o conceito de morte entre crianças de diferentes condições sócio-experienciais com o mesmo nível cognitivo foram empregadas análises da variância multivariada quando o conceito era considerado globalmente e análises da variância simples quando cada uma das dimensões era considerada isoladamente. As respostas das crianças das subamostras de carência sócio-econômica e de marginalidade ao Instrumento de Sondagem do Conceito de Morte foram também qualitativamente avaliadas e comparadas com as das crianças de nível sócio-econômico médio/alto, analisadas em estudo precedente (TORRES, 1979), a fim de obter informações sobre as respostas típicas das crianças de cada nível cognitivo em cada uma das condições sócio-experienciais. Os resultados da avaliação do nível cognitivo revelaram que crianças em condições de carência sócio-econômica e de marginalidade apresentam uma defasagem cognitiva em relação às crianças de nível sócio-econômico médio/alto. Em relação à evolução do conceito de morte os resultados confirmaram uma relação entre desenvolvimento cognitivo e conceito de morte em crianças de condições sócio experienciais de carência sócio-econômica e de marginalidade, reforçando os achados do estudo precedente (TORRES, 1979) com crianças de nível sócio-econômico médio/alto. Os resultados da comparação do conceito de morte de crianças de diferentes condições sócio-experienciais com o mesmo nível cognitivo e mesma faixa etária revelaram diferenças significativas entre as três subamostras. Da mesma forma, a avaliação qualitativa das respostas das crianças ao Instrumento de Sondagem do Conceito de Morte apontou para diferenças quanto ao conteúdo das mesmas. Com base nos resultados obtidos concluiu-se que crianças em condições de carência sócio-econômica e de marginalidade quando comparadas com seus pares de nível sócio econômico médio/alto apresentam uma inadequação do conceito de morte que, associada à defasagem cognitiva e às próprias condições sócio-experienciais, pode concorrer para reduzir o leque de modalidades adaptativas e ser um dos fatores determinantes da opção pela violência destas crianças. Sugestões são feitas no sentido de uma ação educativa que possibilite às crianças em condições de carência sócio-econômica e de marginalidade alcançar um instrumental cognitivo que lhes permita pensar sua realidade a fim de poder superá-la

ASSUNTO(S)

mortalidade infantil conceitos cognição

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