"No peito e na raça" - a construção da vulnerabilidade de caminhoneiros : um estudo antropológico de políticas públicas para HIV/AIDS no sul do Brasil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Inserido no campo denominado da Anthropology of Policy, da Antropologia de Políticas Públicas, o presente estudo tem como objetivo analisar como se dá a construção social da vulnerabilidade para AIDS dos caminhoneiros no Sul do Brasil, abordando a política brasileira de prevenção ao HIV/AIDS. A partir do quadro teórico da Antropologia Medica, foram examinados os discursos de três atores sociais principais: (i) a agência governamental nacional de AIDS, (ii) as Organizações Não Governamentais que recebem o apoio técnico e financeiro por parte do Programa Nacional de DST, HIV e AIDS para executarem projetos de prevenção com a população-alvo de caminhoneiros e (iii) os próprios caminhoneiros que transitam pelo Rio Grande do Sul. Três eixos temáticos importantes para as análises são (i) a globalização (e as relações entre o global e o local), (ii) a constituição da identidade de um grupo social ou de uma comunidade e (iii) a construção de uma cultura sexual. A compreensão da construção da vulnerabilidade implicou seguir os caminhos do conceito através de diferentes instâncias. Nesse sentido, foi-se trilhando uma rota, que partiu de agências internacionais intergovernamentais como a Organização Mundial de Saúde, a agência das Nações Unidas para AIDS e o Banco Mundial, seguindo pela a análise de pesquisas científicas sobre o tema e o discurso da agência governamental nacional para AIDS sobre a vulnerabilidade. Essa rota passou ainda pela apropriação e uso da idéia por parte de Organizações Não Governamentais, até a compreensão do que seja a vulnerabilidade para os próprios caminhoneiros. O objeto foi delimitado ao mesmo tempo pela atuação das ONGs que tiveram projetos financiados pelo Programa Nacional de DST, HIV e AIDS para atuarem junto a caminhoneiros. A estratégia metodológica elaborada para esta pesquisa envolveu a coleta e a análise de dados de diferentes origens, tipos e qualidades. Foram analisados documentos oficiais, publicações científicas sobre caminhoneiros e HIV/AIDS, propostas de projetos elaboradas por Organizações Não Governamentais, além de se ter realizado um estudo de cunho etnográfico junto aos motoristas, bem como um survey (N=854). O estudo qualitativo e quantitativo com caminhoneiros foi realizado no Rio Grande do Sul, nas cidades de Porto Alegre, Gravataí, Canoas, Rio Grande e Chuí. Foi observado que os caminhoneiros estão inseridos num conjunto complexo de relações sociais, tanto nos locais de concentração aqui estudados (postos de combustível e pátio da Receita Federal), quanto nos seus locais de origem, onde predominam suas relações familiares. O universo social dos postos não é um simples lugar de passagem: há regras de conduta, lideranças, espaços sociais demarcados simbólica e geograficamente, e um contingente de pessoas que mantêm entre si relações de diversas naturezas há bastante tempo. O uso inconsistente do preservativo relatado pelos caminhoneiros entrevistados, especialmente em relações regulares ou estáveis, certamente os coloca em situação de vulnerabilidade para HIV e infecções sexualmente transmissíveis. Contudo, o uso inconsistente do preservativo, aliado à oferta de serviços de profissionais de sexo, não são exclusividades dos caminhoneiros. Salienta-se aqui um aspecto pouco mencionado na revisão da literatura: a vulnerabilidade programática ou institucional dos motoristas.

ASSUNTO(S)

antropologia social antropologia da saúde hiv aids caminhoneiros vulnerabilidade em saúde políticas públicas

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