Nelson Rodrigues: o fracasso do moderno no Brasil - 1940/1950

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é refletir sobre o conceito de moderno que foi estruturado entre o final do século XIX e os anos 1920 no Brasil por meio da obra teatral de Nelson Rodrigues. Tal modernidade foi teatralizada pelo dramaturgo em suas peças dos anos 1940 com os dramas de famílias burguesas de elite. Famílias que parecem questionar a própria existência do moderno em nossa realidade ao estarem premidas entre uma cultura moral pública decadente e moralista, presente desde a belle epóque, e uma cultura moral privada perniciosa e imoral, que ascendia nas sociedades mais urbanizadas dos anos 1940. Ao colocar em jogo o passado e o presente, o público e o privado, o moralismo e a imoralidade, a família e o indivíduo, o dramaturgo passava não apenas a questionar a existência do moderno como o descortinava enquanto categoria ideológica, numa leitura utilizada ainda hoje tanto por seus defensores como por seus detratores como uma verdade incontestável. As relações de gênero surgem no contexto dessas peças para explorar as contradições vividas por homens e mulheres de elite numa sociedade onde não se sabia se o moderno, de fato, existia. O próprio dramaturgo se mostrava cindido entre esses valores morais públicos e privados nos dramas das suas personagens. Na segunda parte, trabalho com as peças de Nelson Rodrigues dos anos 1950. O universo social das personagens muda em relação ao conjunto de peças anteriores: as famílias das camadas médias baixas da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro entram em cena como elementos principais. Famílias que tentam imitar um padrão de vida moderno, legado pelos setores elitizados da sociedade, baseado na valorização das aparências, mas que se frustram mediante as adversidades e os conflitos provenientes da confusão entre valores morais públicos e privados. Nesse momento, o fracasso do moderno era latente, mas não assumido por essas camadas emergentes na hierarquia social que tentavam, malogradamente, esconder a precariedade do seu dia-a-dia. A improvisação e a imprevisibilidade desses setores sociais eram mais uma forma de driblar as dificuldades que apareciam do que uma maneira de superá-las. Ao lado desse universo social aparecia também a preocupação do dramaturgo em teatralizar a imprensa da época, sobretudo voltada a esses setores sociais e aos crimes que pululavam numa sociedade mais urbanizada. O autor ironizava a tentativa, baseada na visão da notícia como verdade, de representar os crimes policiais como a realidade nua e crua da vida. Para concluir, o jogo teatral utilizado por Nelson Rodrigues fez emergir uma série de mediações sociais que possibilitam ao historiador de hoje adotá-la como postura metodológica à interpretação das representações, sem restringi-las como a única realidade tangível com a qual possa trabalhar ou desprezar a configuração dos seus limites temporais.

ASSUNTO(S)

historia do brasil republica rodrigues, nelson, 1912-1980 - crítica e interpretação teatro - história - século 20 - brasil

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