Monitoramento da adesão ao tratamento antirretroviral no Brasil: um urgente desafio

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Após o advento da terapia antirretroviral combinada, a aids deixou de ser um agravo com alta letalidade e passou a ser uma doença crônica potencialmente controlável. No entanto, a obtenção de sucesso terapêutico continua sendo um grande desafio devido, entre outros fatores, à necessidade de altos níveis de adesão ao tratamento de forma sustentada. O principal objetivo deste estudo foi descrever o efeito da não-adesão nos principais desfechos laboratoriais, contagem de linfócitos TCD4+ e carga viral do HIV, rotineiramente utilizados para monitoramento de pacientes iniciando tratamento segundo três diferentes formas de medir adesão à terapia antirretroviral. Adicionalmente, procedeu-se revisão sistemática da literatura, com foco em estudos nacionais, para se estimar uma taxa média de não-adesão. Este trabalho faz parte do projeto ATAR, estudo prospectivo concorrente entre indivíduos em início de terapia em acompanhamento em dois serviços públicos de referência de Belo Horizonte, MG. O recrutamento e entrevista basal ocorreram no momento da primeira prescrição, com acompanhamento durante o primeiro ano de tratamento. O ganho de linfócitos TCD4+ e redução na carga viral do HIV foram comparados entre pacientes aderentes e não aderentes por meio de teste t de Student para amostras independentes e análise de variância após pelo menos quatro e até doze meses de tratamento. Entre 176 estudos incluídos na revisão sistemática, 42,6% foram realizados nos Estados Unidos e 6,8% no Brasil. A adesão foi aferida principalmente por meio do auto-relato (71,0%) e dos registros de dispensação em farmácia (17,1%). Meta-análise envolvendo apenas estudos nacionais (N=13) produziu uma taxa média de não-adesão de 34,4% (IC 95% 27,5%- 42,1%). Entre 288 participantes do projeto ATAR e que preencheram critério para esta análise, 22,9%, 31,9% e 74,3% foram considerados não-aderentes, respectivamente, pelos registros em prontuários médicos, auto-relato e registros de dispensação nas farmácias. Segundo a medida de adesão pelo auto-relato, o ganho médio de linfócitos TCD4+ foi de 144,6 células/mm3 e a redução média de carga viral 4,52 log para aqueles considerados aderentes, comparado com um ganho médio de 86,3 linfócitos TCD4+/mm3 (p=0,023) e redução média de 2,73 log na carga viral (p<0,001) para aqueles não-aderentes. De acordo com os registros de dispensação em farmácia, indivíduos com retirada regular de medicação obtiveram ganho médio de 195,4 linfócitos TCD4+/mm3 e redução média de 4,62 log na carga viral. Por outro lado, entre aqueles com retirada irregular e abandono de terapia, o ganho médio foi de 99,8 e 90,3 linfócitos TCD4+/mm3 (p<0,001), com redução média de 4,07 e 2,41 log na carga viral (p<0,001), respectivamente. Já pelos registros nos prontuários médicos, houve aumento médio de 142,4 para os aderentes e 58,5 linfócitos TCD4+/mm3 para os não-aderentes (p<0,001), com redução média de 4,25 log na carga viral entre os pacientes aderentes e de 1,99 log na carga viral entre aqueles com registro de não-adesão nos prontuários (p<0,001). De maneira clara, indivíduos considerados aderentes ao tratamento tiveram maior ganho médio de linfócitos TCD4+ e maior redução média de carga viral do HIV quando comparados com aqueles não aderentes. Embora essa diferença tenha variado de acordo com a medida de adesão, fica evidente o potencial impacto que a não-adesão ao tratamento antirretroviral nestes serviços públicos de referência possui, tanto na recuperação imunológica quanto no controle virológico. O monitoramento da adesão à terapia antirretroviral, de forma contínua e eficaz, deve ser uma prioridade nos serviços de referência de aids, sendo capaz de identificar pacientes com alto risco de desenvolver falência virológica e permitindo intervenções precoces com possibilidade de preservação de esquemas terapêuticos iniciais.

ASSUNTO(S)

recusa do paciente ao tratamento decs linfócitos t cd4-positivos decs dissertações acadêmicas decs adesão à medicação decs resultado de tratamento decs contagem de linfócitos decs infecções por hiv/quimioterapia decs terapia anti-retroviral de alta atividade decs carga viral decs síndrome de imunodeficiência adquirida/quimioterapia decs

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