Modos de enfrentamento da morte violenta: a atuação dos servidores do departamento de criminalística do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul
AUTOR(ES)
Cavedon, Neusa Rolita
FONTE
RAM. Revista de Administração Mackenzie
DATA DE PUBLICAÇÃO
2011-08
RESUMO
No intuito de compreender os modos de enfrentamento de um fazer diário que envolve o convívio profissional com a morte violenta é que realizei uma pesquisa de cunho etnográfico, de 2007 a 2010, no Departamento de Criminalística (DC) do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul. Entrevistas, observação simples e participante correspondem às técnicas escolhidas para a obtenção dos dados, e a análise dos achados de campo seguiu os ditames dos estudos etnográficos ao atentar para as interlocuções entre a visão êmica, a visão ética e os teóricos referenciados. A sustentação teórica sobre a morte encontra respaldo nos estudos de DaMatta (1987), Ariès (2000), Elias (2001) e Bauman (2008). Elias (2001) afirma que a morte na contemporaneidade foi recalcada sob dois âmbitos: o individual e o social. O recalque individual impõe uma distância dos moribundos, enquanto o recalque social se dá com a morte ocupando os bastidores da vida social. No caso dos servidores do DC, o enfrentamento da consciência da morte e da violência se dá pela ênfase no "outro mundo", das almas; pela desconstrução, ao descobrir as causas da morte violenta por meio da busca pela verdade, mediante a utilização do método e das técnicas científicas; pela banalização, em que o corpo da vítima é visto como um "objeto" ou um "boneco"; por meio do riso, do humor negro; o enfrentamento de uma morte violenta no âmbito pessoal mediante o exercício profissional que desafie o indivíduo a ficar frente a frente com essa realidade. Os trabalhos de Marta et al. (2009), Combinato e Queiroz (2006) e Brêtas, Oliveira e Yamaguti (2006) mostram que os sujeitos por eles pesquisados não foram treinados para lidar com a morte no âmbito do trabalho, situação idêntica foi detectada junto aos servidores do DC, sendo a proposição educacional de Kovács (2005) aplicável ao caso em questão. A contribuição desta pesquisa para os estudos organizacionais consiste em chamar a atenção para uma temática pouco abordada na área, bem como enfatizar a relevância de as organizações encontrarem mecanismos de auxílio àqueles que têm por profissão o convívio com a morte violenta.
ASSUNTO(S)
morte violência medo perícia etnografia
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