Mirmecofauna em áreas de mata ripária: implicações para conservação e restauração do ecossistema / Ant fauna from riparian areas: implications to ecosystem conservation and restoration

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Matas ciliares representam formações vegetais ameaçadas, incluídas na legislação como áreas de proteção permanente. Apenas a distância do rio e a riqueza de espécies arbóreas têm sido considerados parâmetros para a restauração e conservação de matas ciliares. A causa desta simplificação pode ser em parte atribuída à escassez de conhecimentos sobre a fauna de ambientes ripários e sua importância para ecossistemas ribeirinhos, conseqüentemente sobre o valor de corredores ciliares como abrigo e refúgio para diversos organismos. Por essa razão, estudamos diferentes aspectos das comunidades de formigas em quatro áreas ciliares. Primeiro investigamos a importância da perturbação como determinante da riqueza e composição local de espécies. Distância e altimetria relativas ao curso do rio estão relacionadas com inundação e efeito de borda, por conseguinte, relacionadas com distúrbios em florestas ribeirinhas. Esses fatores exercem influências diversas sobre formigas epigéicas nas áreas ribeirinhas estudadas. Por isso, diferenças idiossincráticas das áreas estudadas podem ser determinantes das comunidades de formigas. Para espécies arborícolas, a distância do curso do rio é o mais importante determinante da riqueza, evidenciando possíveis efeitos de borda. Distância entre pontos determinam a similaridade de espécies de formigas do solo em todas as áreas estudadas, sendo os pontos mais distantes uns dos outros mais dissimilares entre si. No entanto, a maior semelhança encontrada entre os pontos próximos não deve ser explicada pela especialização de formigas a um habitat específico, enquanto reprodução de formigas por brotamento de ninhos de formigas pode ajudar a explicar este padrão de comunidades de formigas em serapilheira. Para formigas arborícolas, a ausência de resposta da similaridade em função da distância e diferença na altimetria entre pontos pode ser explicada pela estreita relação entre formigas e espécies vegetais, em vez de influência do rio ou inundações. Em segundo lugar, investigamos se a mirmecofauna ripária apresenta um conjunto característico de espécies e se a composição dessa comunidade muda em função da distância em relação ao leito de rio. Nossos resultados não suportam a hipótese de que exista uma comunidade composta por espécies distintas nas margens dos rios. Cada uma das quatro áreas estudadas apresenta um conjunto característico de espécies. A comparação entre transectos dentro de cada área estudada mostrou que a composição de espécies varia apenas quando transectos são suficientemente longos, o que está correlacionado com maiores distâncias de rio e mais importante, maior número de amostras. Diferentemente de resultados encontrados para as amostras próximas de grandes rios, a composição de espécies próximas a rios estreitos não difere significativamente. Independentemente das variações na composição entre e dentro das diferentes áreas ciliares, notamos que em cada uma das áreas, a semelhança na composição de espécies ao longo de transectos a partir das margens do rio não varia. Todas as áreas estudadas apresentaram o mesmo padrão de semelhança, para formigas no solo e árvores, evidenciando a não existência de espécies características próximo ao curso dos rios. Finalmente, atentamos para outro importante aspecto relacionado a áreas ripárias: a recuperação. Acompanhamos áreas reflorestadas por quatro anos desde o período de preparação do solo para o plantio das mudas. O objetivo foi compreender o modo com que a riqueza e a composição de espécies de formigas variam ao longo do tempo, em áreas ciliares urbanas reflorestadas. A riqueza de espécies de formigas de solo variou ao longo do período estudado, mas essa variação não pode ser explicada pelo reflorestamento, uma vez que o mesmo padrão foi encontrado em áreas que não foram reflorestadas. Para formigas coletadas em árvores não foi encontrada variação de riqueza. As alterações na composição das espécies ao longo do período de estudo foram encontradas na maioria das áreas, tanto para as formigas coletadas no solo como nas árvores. Estas mudanças ocorreram tanto em áreas reflorestadas, como naquelas onde não aconteceu o plantio de mudas. Além disso, não houve aumento da semelhança na composição de espécies em relação à área de referência ao longo tempo. Formigas têm sido apontadas como organismos que recuperam sua riqueza rapidamente após perturbações, entretanto é possível que o padrão para a composição seja diferente. Entre as áreas estudadas, um fragmento em regeneração natural há aproximadamente duas décadas mostrou-se mais semelhante à área de referência. Assim, estudos que consideram a identidade e abundância de espécies de formigas em um maior período de tempo podem revelar aumento da similaridade entre áreas reflorestadas e áreas sem perturbação enquanto estudos que avaliam apenas mudanças na riqueza podem ser pouco úteis para avaliação ambiental. Além do fato de a recuperação da comunidade possivelmente levar longo períodos de tempo, os resultados aqui apontados mostram que, se o objetivo das áreas protegidas é a conservação da biodiversidade, a legislação florestal merece atenção porque áreas estreitas parecem ser deficientes para este fim.

ASSUNTO(S)

richness riqueza formigas riparian forest ecology ants ecologia species composition matas ciliares composição de espécies ecologia de ecossistemas

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