Microdeleções do cromossomo Y em três grupos populacionais de homens brasileiros

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

A infertilidade afeta aproximadamente 15% dos casais na população em geral, e metade destes casos são devidos á infertilidade masculina. Entre os casos de infertilidade masculina, cerca de metade são em geral relacionados a doenças, subnutrição, problemas endocrinológicos, defeitos genéticos ou acidentes e outras influências ambientais e a outra metade são classificados como infertilidade idiopática. Alterações genéticas tem papel determinante nos defeitos de espermatogênese incluindo função e liberação espermática. Microdeleções no braço longo do cromossomo Y são as mutações mais comuns em homens inférteis, envolvendo uma ou mais regiões de fatores de azoospermia (AZF). A região AZF original foi subdividida em três regiões não-sobrepostas denominadas AZFa, AZFb e AZFc e recentemente uma quarta região AZFd foi também sugerida. Cada uma destas regiões contém diversos genes candidatos envolvidos na fertilidade masculina. Neste estudo, a freqüência e distribuição de microdeleções no cromossomo Y foi comparada entre três grupos de homens brasileiros: (1) 246 homens não excluídos em exames de paternidade e, portanto, férteis embora não necessariamente normozoospérmicos; (2) 174 homens excluídos como pais biológicos em exames de paternidade; e (3) 84 homens diagnosticados como inférteis por espermograma e classificados em diferentes categorias de falha na espermatogênese. As comparações envolveram ainda um quarto grupo de 392 homens normozoospérmicos de relatos da literatura como grupo controle. Uma bateria básica de 17 STS foi combinada em 4 multiplexes para a triagem das microdeleções cobrindo as quatro regiões AZF, envolvendo ainda um STS do cromossomo X para controle positivo interno de PCR. Uma bateria adicional de 8 STS, a maioria deles na região AZFb, foi também utilizada para uma análise complementar de microdeleções. Os indivíduos foram analisados de acordo com a presença e ou ausência do STS. Os dados obtidos foram arranjados em tabelas de contingência e um teste exato de Fisher aplicado. Na análise global de microdeleções, em 30% dos homens inférteis, em 6,1% dos homens não excluídos e em 7,5% dos homens excluídos foi detectada a presença de microdeleções em pelo menos um STS e confirmada via PCR independente. Nos inférteis a frequência de microdeleções em STS individuais variou de 2,4% para o sY182 até 18,1% para o sY254. Em todas as comparações entre os quatro grupos dois a dois foi verificada uma diferença significativa (p<0,001) na freqüência de microdeleções com exceção da comparação entre homens não excluídos e excluídos. Este resultado sugere que a infertilidade devido a microdeleções não é um fator significativo para explicar o insucesso reprodutivo de homens excluídos em exames de paternidade. Comparando os grupos estudados com o controle de normozoospérmicos, para todos os 17 STS foi observada diferença significativa na freqüência de microdeleções em relação aos inférteis e em 13 dos 17 STS em relação aos excluídos. Em nenhum STS, entretanto, foi observada diferença em relação aos homens não excluídos. Para os oito STS adicionais testados, não foi observada diferença significativa na frequência de microdeleções entre inférteis e normozoospérmicos. Este resultado demonstra que diferentes STS têm valor diagnóstico diferente para a infertilidade em função da sua localização nas regiões AZF no cromossomo Y. Os resultados reforçam a recomendação de que a análise de STS nas regiões AZFc e AZFd é certamente a mais importante do ponto de vista diagnóstico no estudo da infertilidade masculina e corroboram a seleção dos STS internacionalmente recomendados para a triagem de microdeleções relevantes para infertilidade. Analisando a distribuição espacial das microdeleções nas diferentes regiões AZF, foi observado que em homens inférteis as microdeleções ocorrem de forma significativamente agregada entre as diferentes regiões dos fatores de azoospermia (AZF) em especial AZFb+AZFc, AZFb+AZFd e AZFc+AZFd, enquanto que nos homens não excluídos as microdeleções ocorreram de forma isolada. Estes resultados indicam portanto que o diagnóstico da integridade do cromossomo Y não deve levar em consideração apenas a ocorrência ou não de microdeleções mas também a sua posição em relação às diferentes regiões AZF bem como a ocorrência de microdeleções em associação ao longo do cromossomo Y. Testes estatísticos formais de associação como estes realizados neste trabalho poderiam ser realizados pelos laboratórios de diagnóstico de forma que o laudo do exame viesse a incluir esta informação relevante para o estudo da infertilidade.

ASSUNTO(S)

ciências biológicas infertility cromossomo y genética infertilidade masculina marcadores moleculares sts microdeleções no cromossomo y genetic alterations

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