Maternidades: os repertórios interpretativos utilizados para descrevê-las / Motherhoods: the interpretative repertories used to describe them

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Embora os primeiros anos da experiência da maternidade sejam colocados como um período crítico na vida da mulher, pouca assistência ainda é dirigida a ela nessa fase, sendo o bebê ou as questões biológicas o foco da atenção das ações da saúde pública e de grande parte das produções acadêmicas. Compreendendo a maternidade como uma construção que envolve múltiplos fatores e considerando a influência dos diversos discursos sociais na produção de uma concepção de maternidade e na padronização das formas de vivê-la, o presente estudo, inspirado pela perspectiva construcionista, pretendeu contribuir com a promoção de uma reflexão sobre as descrições socialmente disponíveis sobre o ser mãe e ser mulher. Nesse sentido, foi objetivo deste estudo identificar os repertórios interpretativos sobre a maternidade utilizados em entrevistas com mulheres que vivenciavam esta experiência. Participaram deste estudo 12 mulheres, com idade compreendida entre 18 e 36 anos, mães, usuárias de uma unidade de saúde materno-infantil, com filhos entre 4 meses e 14 anos, tendo o filho caçula entre 4 meses e 2 anos de idade. A construção do corpus foi realizada a partir da utilização das entrevistas individuais semi-estruturadas, que além de permitirem uma maior liberdade à entrevistadora em abordar os assuntos de interesse conforme eles surgissem na conversa, permitiram o resgate da história individual de cada participante em relação à maternidade. A análise foi realizada segundo as propostas de análise do discurso influenciadas pela perspectiva construcionista social, especialmente, pela noção de repertórios interpretativos. Após a transcrição de todas as entrevistas realizadas, houve uma leitura curiosa e reflexiva, possibilitando a identificação e análise dos repertórios interpretativos. A análise dos repertórios nos permitiu identificar algumas funções de seu uso, bem como suas implicações morais. Por meio da análise, identificamos que as participantes descreveram a maternidade utilizando-se de quatro repertórios básicos, que denominamos como: maternidade romântica, que é caracterizado por descrições que colocam a maternidade como um fenômeno natural, pleno e incomunicável; maternidade medicalizada, no qual a maternidade é apresentada por meio de um vocabulário médico e psicológico; maternidade exigente, em que as descrições enfatizam as exigências do exercício de ser mãe e aprendendo com a maternidade, por meio do qual a maternidade é descrita como oportunidade de aprendizado e mudanças. Observamos que ao utilizarem tais repertórios, as participantes procuraram se colocar como boas mães, buscando um lugar confortável e um julgamento favorável na interação. Acreditamos que este estudo, além de nos permitir identificar os repertórios e analisar os elementos relacionados a esses conjuntos, também possibilitou espaço para reflexão sobre os sentidos de maternidade. E, dessa forma, este estudo buscou destacar a importância dos profissionais médicos, enfermeiros, psicólogos, educadores, pesquisadores bem como da sociedade, de forma geral, serem sensíveis aos repertórios interpretativos disponíveis socialmente os quais ampliam ou limitam as possibilidades de sentido sobre a maternidade, assim como, muitas vezes, servem para sustentar discursos e práticas opressivas para as pessoas, homens e mulheres, mães e não mães.

ASSUNTO(S)

psicologia womens health saúde da mulher maternidade motherhood interpretative repertories repertórios interpretativos

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