Mamíferos de médio e grande porte no cerrado mato-grossense : caracterização geral e efeitos de mudanças na estrutura da paisagem sobre a comunidade

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O bioma Cerrado, a despeito de sua importância como hotspot para a conservação, tem sofrido perdas significativas de cobertura nativa nas últimas décadas. Tais perdas resultam em uma paisagem fragmentada, com consequências negativas para a manutenção da biodiversidade, em especial para a mastofauna de médio e grande porte (>1kg). Devido à importância ecológica do grupo, associada à sensibilidade à perda e fragmentação de hábitats, o conhecimento científico, desde inventários básicos até a investigação dos processos que levam a perda de espécies, é necessário para orientar estratégias de conservação não apenas o grupo, mas toda a biodiversidade do bioma. Assim, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a comunidade de mamíferos de médio e grande porte no município de Água Boa-MT e avaliar os efeitos da estrutura e dinâmica da paisagem sobre esta comunidade. O levantamento geral da mastofauna foi realizado de junho/08 a janeiro/09 com 24 armadilhas fotográficas, distribuídas em oito sítios (três por sítio) distantes de pelo menos 2 km. No capítulo 1, foram listadas as espécies registradas e testada a representação da amostragem por meio de curvas de acumulação de espécies. Devido à diferença de esforço amostral entre sítios, as riquezas locais foram comparadas pela técnica de rarefação. Foram registradas 28 espécies para um esforço total de 3.302 armadilhas-dia. A amostragem mostrou-se representativa para a região, apesar de insuficiente para a riqueza local de alguns sítios. Comparado a outros levantamentos semelhantes no Cerrado, sendo a maior parte conduzida dentro de unidades de conservação, este estudo registrou a maior riqueza de mamíferos de médio e grande porte já encontrada. Isso sugere o potencial da região para a conservação da mastofauna do bioma, atentando ainda para a necessidade de estratégias de conservação por meio do manejo integrado de paisagens. No capítulo 2, foi testada a associação entre as variáveis biológicas riqueza (S), riqueza de carnívoros (Sc), frequência de registros de carnívoros (abundC) e frequência de registros de espécies de grande porte (abundG) e parâmetros da paisagem pretérita e recente, medidos com base em imagens de satélite de 1989, 2001 e 2007. Os parâmetros usados para descrever a paisagem foram: cobertura de mata (mata), cobertura de vegetação nativa (nat), densidade de borda (ed), perda de cobertura de 1989 a 2001 (perda89_01) , perda de 2001 a 2007 (perda01_07) e perda de cobertura de total (perda89_07). Esses parâmetros foram usados como variáveis explanatórias na construção de modelos conceituais (simples e compostos, lineares e nao-lineares) que explicassem as variáveis biológicas. O ajuste dos modelos aos dados biológicos foi testado segundo o Critério de Informação de Akaike (AIC), corrigido para amostras pequenas (AICc). Os resultados da seleção de modelos para explicar a variável riqueza, sugerem uma forte influência das matas de galeria na manutenção da mesma e um atraso de resposta aos efeitos de fragmentação, devido ao grande peso atribuído a uma variável da paisagem pretérita (ed89). Para Sc os modelos mais plausíveis, que incluem mata e heterogeneidade como importantes indicam que, possivelmente, as matas de galeria ajudam a manter a diversidade de presas e, consequentemente, a riqueza de carnívoros predadores. Por sua vez, a heterogeneidade da paisagem pode contribuir para a mortalidade de carnívoros, indiretamente, devido à facilitação da entrada de parasitas. O mesmo indício de atraso no tempo de resposta à fragmentação aparece para os carnívoros e este é ainda mais evidente para a frequência de registros do grupo (abundC). Concluiu-se assim que as matas de galeria desempenham um forte papel na manutenção da diversidade de espécies, mas a sua simples preservação parece ser insuficiente para a viabilidade das populações em longo prazo, uma vez que, os efeitos da configuração espacial das porções de hábitat, representada aqui pela densidade de borda, parece já surtir efeitos negativos nas populações, embora ainda não tenha resultado em perda de espécies. Esta, no entanto, pode acontecer no futuro, caso os efeitos da perda de hábitat e alteraçõe na estrutura da paisagem não sejam mitigados.

ASSUNTO(S)

cerrado medium and large sized mammals landscape ecology mamíferos de médio e grande porte time-lag response to landscape changes atraso de resposta à alterações na paisagem ecologia da paisagem cerrado ecologia

Documentos Relacionados